Ciência Improdutiva ou falta de ação?
Vamos falar de coisas que interessam ao Brasil.
Sempre defendi a tese que o casamento do meio acadêmico com o setor produtivo é o cerne do desenvolvimento tecnológico. Os resultados vão aparecer pela criatividade da academia e o pragmatismo do empresariado. Os dados abaixo foram colhidos na revista Época, sintetizando um pouco uma angústia. Antes de ser uma crítica velada ao meio a produção existente de ciência vamos ver como um alerta para que alguns rumos sejam corrigidos, no futuro deste país isso terá relevância.
O Brasil ocupa hoje 1,8% da produção mundial de ciência equivalente à participação do nosso PIB no mundo. É pouco, considerando que produzimos muitos artigos, mas poucas patentes. Em 1980 produzimos 2.215 artigos científicos, em 2005 15.777. Os Estado Unidos produzem 288.714, a China 59.361, por ai vai.
A título de comparação com a Coréia e Índia na questão de patentes, enquanto produzimos 283, a Índia registrou 3.200 e a Coréia 4.700. Dados de 2005 – Fonte: OMPI.
O descasamento entre a industria, as universidades e centros de pesquisa é nítido, fazemos ciência, mas pouco desenvolvimento tecnológico. Não obstante ao esforço que vem sendo feito, os resultados não aparecem no mercado. O gerador de riqueza e renda vem da comercialização das inovações, a competitividade da nação vem da difusão do conhecimento, da sua aplicabilidade.
Temos excelentes universidades e centros de pesquisas como a USP, Unicamp, São Carlos, Coppe e a própria UFMG, temos também o CETEC (MG) e o IPT (SP) como centros de pesquisas, quadros de excelência com doutores, mestres e pesquisadores que não devem nada a nenhum país do mundo. Onde está nosso gargalo?
Segundo a revista, 85% da inovação é financiada por verbas públicas. Nada errado, mas o correto seria a participação maciça da industria em geral. Grandes corporações como a Petrobrás, Eletrobrás, Vale do Rio Doce, siderúrgicas, investem no desenvolvimento tecnológico buscando produtividade, competitividade e resultados concretos. É pouco, comparado a outros países. Precisaríamos que nossas bases industriais, médias, pequenas e grandes empresas tivessem consciência da importância do desenvolvimento tecnológico.
Vivemos a sociedade do conhecimento, da informação. A educação e inovação tecnológica são pilares da sociedade moderna. O mundo provou que a evolução e crescimento de países em desenvolvimento só são conseguidos com investimento em educação, ciência e tecnologia. Vide, Coréia, Chile, Índia e a própria China.
A produção de artigos é saudável, mas o envolvimento da industria com foco no mercado é mais produtivo para o segmento acadêmico e para a sociedade.
O setor produtivo nacional é conservador, segundo a revista, 42% dos investimentos em pesquisas vêm das industrias, com peso desproporcional nas grandes corporações. No Japão este número é 80%, nos Estados Unidos 73%. Tirem as grandes empresas e vejam o que sobrará.
A convivência entre o meio acadêmico e o produtivo, leia-se empresas, não é fácil, muitas vezes controverso, mas essencial para que metas com resultados concretos em benefício da sociedade. Muitas iniciativas têm sido tentadas pelos atores envolvidos, mas os resultados ainda são insuficientes, comprometendo nosso futuro. Sinal amarelo aceso!
Os entraves burocráticos quando envolvem governo são muitos, os fundos setoriais criados para este fim não atendem a contento. Existem já mecanismos, mas ainda tímidos, no incentivo direto a industria e empresas, mas os avanços virão da simbiose entre os pesquisadores com o setor produtivo.Precisamos ser mais criativos nos mecanismos.
A justiça social tão desejada se fará com um país gerando riqueza e competitivo.
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