sexta-feira, setembro 13, 2013

Murilo Badaró faria 82 anos hoje, 13/09/2013.




A saudade é algo que não se explica.Muitas vezes podemos arrefecê-la, mas no caso da morte ela será uma dor eterna. Dor por não se ter mais a pessoa entre nós, mas com uma sensação boa de sentirmos esta ausência, sensação causada pelo amor, admiração, respeito, amizade, enfim, só as coisas boas permanecem. Isso é a vida.

"SAUDADE nada mais é do que a ausência de quem amamos."
  • Não posso pedir para que todos gostem dele, mas posso pedir que tenham respeito e reconhecimento por tudo que fez por Minas Gerais, pelo Brasil, por sua terra natal Minas Novas e pelo Vale do Jequitinhonha.
  • Sei que se não fez mais, foi porque não pôde fazer.
  • Honestidade, altruísmo, vocação pública, abnegação, seriedade e cultura seriam minhas palavras para defini-lo, principalmente no momento em que o prestígio da classe política sangra.

  • Escrevi este texto logo após a morte dele.

    Foi publicado na Revista da AML - Academia Mineira de Letras.

    A ALMA DE MINAS
    Murilo Prado Badaró*
    Não se trata de bairrismo: alguns mineiros são privilegiados com a 
    alma de Minas Gerais. Poucos sabem o real significado da Alma de Minas.
    Os designados com a alma de Minas estão nos segmentos da política e da cultura, das artes, seria difícil nominar todos; nos esportes podemos  destacar alguns também.
    Existem centenas de mineiros que se ressaltam na mídia, perante seus pares, seus setores específicos, mas nem todos necessariamente têm a alma de Minas.
    A alma de Minas tem o altruísmo, a abnegação e a vocação pública como pilares, outros valores, todos positivos estão impregnados também na Alma de Minas.
    Ouvi o ex-governador Aécio falar no velório do meu pai: Murilo tinha a alma de Minas.
    Ele está certo, sou testemunha e posso contar.
    Murilo Badaró é um dos escolhidos para ter a alma de Minas, levou parte dela junto consigo, outros tantos ainda a levarão, mas infelizmente estão diminuindo os homens dignos desta essência.
    Conversávamos muito ultimamente, aproveitei “meu velho” até o último instante. Ele me contou muitas histórias, debatíamos sobre a década de 50 e 60, sobre Vargas, a revolução de 64, os anos 70 e 80, 
    enfim, tínhamos muitas conversas que uniam a minha curiosidade com a sua sabedoria. 
    Ele me contou a sua decepção e desconforto quando a linha dura, que implantou a ditadura, desvirtuou os ideais da legítima revolução de 64.
    A sua postura conjuntural de opção política quando seus ideais desviavam para outra direção. O homem idealista e democrata se incomoda  com isso, quem o conheceu sabe do que falo.
    Nossas conversas eram muitas. Quando, com muito prazer de minha parte, levava um vinho para degustarmos no domingo, as histórias surgiam.
    Murilo Badaró me contava de sua atuação como oposição a Magalhães Pinto, então governador nos idos de 60: – Murilo, a política precisa de uma oposição combatente, legítima. Estamos perdendo isso. 
    Os interesses, muitas vezes econômicos se sobressaem sobre a essência política do embate e do confronto, educado e necessário. Exclamava ele na sua serenidade.
    Nunca vi meu pai alterar seu tom de voz, nem em momentos que fizessem qualquer pessoa normal mudar seu comportamento. Isso é parte  da alma de Minas.
    Ele me contou o episódio da convenção que disputou no PSD, então com 26 anos, para ser candidato a Vice-Governador na chapa de Israel Pinheiro, perdendo por muito pouco. Derrotado pelos caciques do partido, muitas mágoas para frente podem ter selado seu destino. Pela alma de Minas, ele sempre relevou tudo. 
    Ele nunca teve inimigos políticos, nem adversários, no estrito senso da palavra. A Alma de Minas dá a estes escolhidos esta prerrogativa, eles conseguem conversar com adversários, conviver, conciliar, negociar, 
    enfim, esta é a essência da política mineira para os que têm a alma de Minas.
    Nunca testemunhei uma expressão de ódio, desamor ou sentimento de vingança no meu pai, por mais que tivesse motivos ou razão. 
    Isso é parte da Alma de Minas.
    – Murilo, na política muitas vezes, a ousadia é a estratégia, perder ou ganhar é parte de uma eleição, disse-me quando contou episódios de sua vida em que disputou eleição, mesmo sabendo da derrota iminente e da luta inglória. Nas suas candidaturas a bandeira sempre foi a vocação pública, o sentido de servir a Minas Gerais – nada, além disso. 
    A coragem é parte da Alma de Minas, derrotas podem ser vitórias perante os preferidos pelo destino para possuírem esta alma de Minas Gerais. Os escolhidos para terem a alma de Minas relativizam a vitória, 
    ela é parte do contexto político, ou não. A luta e a estratégia podem ser mais importantes do que a vitória ou a derrota. Isso muitas vezes faz a diferença do político mineiro. 
    Contou-me seu voto contra a cassação de Márcio Moreira Alves e o discurso de protesto contra a anulação de JK; estes quase lhe custaram o mandato, mas ele triunfou com as suas convicções. Ele assumiu os  riscos, conseguiu conciliar e contemporizar evitando o pior, mas nunca transigiu dos seus ideais de liberdade e democracia.
    Murilo Badaró estava incomodado com a destruição das instituições, com o excesso do dinheiro na vida pública e a deterioração da classe política. Ele como testemunha ocular e presencial de vários episódios 
    deste país, deve ser levado em consideração, os fatos falam mais do que suas ilações.
    Meu pai teve a morte dos justos: ele morreu em 5 minutos. Todos têm defeitos e qualidades, mas os que representam a alma de Minas têm seus desígnios.
    Não me conformo com a morte dele. A morte não pode ser discutida, nem entendida, ela só pode ser aceita, nada mais. Ele poderia ficar mais alguns anos com a gente, fazendo o bem, ajudando conhecidos e 
    desconhecidos, como sempre fez. A alma de Minas faz as pessoas não pensarem em si, mas nos outros; ele sempre foi assim.A morte e o dito destino têm seus mistérios, assim como a vida, 
    mas isso não pode ser motivo de resignação.
    Minhas lágrimas podem estar secando, minha dor se arrefecendo, mas a saudade tomará conta destes espaços e será eterna, pública e reconhecida por alguns que tiveram este privilégio de ter convivido com 
    ele.
    Não estou lamentando, nem me confortando aqui, só quero que muitos saibam que perdemos mais um personagem com a alma de Minas, e como ele mesmo me disse, a classe política está se degenerando, 
    infelizmente. Espero que ele, na sua sabedoria, estivesse errado, mas os fatos nos mostram isso.
    Não se trata de troca de gerações, alguns valores são imutáveis, inegociáveis.
    A alma de Minas não possui genéricos.
    O exemplo dele pode ser resumido pela alma de Minas, para quem o conheceu é fácil entender o que escrevo aqui com a dor da perda, quem não o conheceu ouvirá seu nome ecoando nas montanhas das alterosas, nas homenagens que ainda virão, nos livros que escreveu ou nas histórias 
    de Minas e do Brasil. 
    Nunca será difícil um filho escrever ou falar sobre um pai em momento como este. No meu caso pode ser mais complicado falar sobre o político, o homem da cultura, o pai, o “detentor” da alma de Minas? 
    Não importa, afinal, a dor é pessoal e intransferível, que fiquem os seus bons exemplos. São vários!

    Presto aqui minha homenagem a ele.

    A revista integral com diversos outros artigos sobre ele esta aqui.

    http://www.academiamineiradeletras.org.br/download/Revista_AML_n_LVI.pdf