domingo, outubro 16, 2022

Jesus era socialista?

 


Quando estudei economia um professor disse que Jesus foi socialista. Eu juro que não entendi e fiquei com a pulga atrás da orelha. Fazia sentido por um lado, mas por outros não.
Primeiro porque os assuntos de religião, pelo menos em tese, deveriam ser distanciados da política. Não é assim e em alguns momentos como a Era das trevas na Idade Média (antes do Iluminismo) foi um verdadeiro terror. A religião se impunha e misturava com a política, sempre de forma depreciativa, autoritária e despótica. 
Pois bem, mas vamos lá, querer justiça social, combater a pobreza e olhar para os mais humildes não é só prerrogativa de socialistas, a esquerda assume uma narrativa que é falaciosa porque a direita também quer isso, a prosperidade e oportunidade para todos são pilares do capitalismo. O mundo é pródigo de exemplos e sempre a prosperidade se atingiu pela liberdade. Infelizmente o socialismo descamba sempre para o autoritarismo, mesmo antes de atingir o último estágio que é o comunismo. Para sintetizar esta premissa que muitos contestam:

Sapiens- Uma breve história da humanidade de Yuval Noah Harari, pág,172, diz, o que corroboro 100%: 

A ordem política moderna, desde a Revolução Francesa, fez as pessoas acreditarem que a igualdade e liberdade individuais são valores fundamentais. Mas eles são contraditórios. A igualdade só pode ser assegurada se forem diminuídas as liberdades daqueles que estão em melhores condições.

Simples assim. 

Pois bem, apesar de que na teoria as coisas devem ser dissociadas, nunca serão. O Estado é laico, deve ser, principalmente pelo conceito de liberdade de expressão e opinião. 
Alguns regimes teocráticos imprimem o terror e o autoritarismo, muitas vezes pior que o próprio comunismo que tem milhões de morte na história e muito sangue de inocentes.
A questão do autoritarismo não se restringe a economia, e nem a religião.

Mas seguindo aqui. Sou leitor compulsivo e entre meus estilos preferidos de leitura está a biografia.
Me deparo com a Biografia de Jesus e revolvi encarar. Grata surpresa.
O livro não é exatamente a biografia dele, mas um relato de sua passagem pela terra e uma análise dos 4 evangelhos (João, Marcos, Mateus e Lucas que são chamados de sinóticos os 3 últimos) e muitas citações a evangelhos chamados apócrifos, especialmente o de Tiago, com muitas passagens relatando a vida de Jesus.
O livro é bem técnico, mas sensacional, leitura cativante.
Aprendi muitas coisas, algumas não sabia, como o grande taumaturgo que era Jesus, muito mais do que a maioria conhece de seus milagres. Ressurreições, não foi só a de Lazaro, exorcismos, milhares, curas, outras milhares, tudo relatado pelos evangelhos oficiais e apócrifos com centenas de testemunhas relatadas e contadas.

Mas vamos seguir a questão do socialismo.

Vou citar um trecho do livro para que as pessoas tirem suas próprias conclusões: Fonte: páginas 185, 186 e 189 do livro.

Diziam também que ele era um grande taumaturgo, que realizava sinais poderosos e que libertava os possuídos pelo demônio. Quatro, cinco mil pessoas atravessavam as províncias, claro, para levar-lhe seus doentes, mas também para escutá-lo. O que ele pregava? A chegada do Reino de Deus, como já vimos. Mas o que será que trazia de tão novo, de tão alegre, de tão primaveril em suas pregações que lhe valeu tal envolvimento popular e o fato de que pais de família e mulheres ricas largavam tudo para seguir seus passos e se colocar a seu serviço? Logo de início, para a grande surpresa dos doutores da Lei que vão escutá-lo, os escribas e os fariseus, Jesus não se interessava nem um pouco pelas reformas políticas e sociais da Palestina. Por que deveria se interessar? Ele não tinha vindo para reformar o mundo. Ele veio para anunciar seu fim. Mas, então, sua palavra não se encaixava verdadeiramente na tradição profética: antes de Jesus, todos, inclusive João Batista, denunciavam os males sociais e políticos de seu tempo.

Suas profecias se baseavam nisso. O que todos esses profetas diziam em seus sermões, como uma cantilena? Os Josués, Isaías, Jeremias, Ezequiéis, Oseias, Amós, Esdras e Daniéis? Em todos os salmos, em todos os versículos, eles denunciavam os reis e os sacerdotes que tinham se afastado do caminho que o Rei verdadeiramente justo, o rei de Israel e da Aliança, exigia que eles tomassem. Acusavam a má conduta dos monarcas que não defendiam nem a viúva nem o órfão.

Em seus ensinamentos, não havia menção, em nenhum  segundo, em nenhuma frase, em nenhuma palavra, de  poder político ou de descoberta.  Ao contrário.  “Dai, pois, o  que é de César a César, e o que é de Deus, a Deus”  (Mateus, 22, 21).  Deus não pode tomar como sede o palácio  do príncipe.  A restauração monárquica não entrava em seu  programa, nem qualquer viésista nacional.  

Não era necessário escutar com atenção durante muito tempo para compreender que Jesus não considerava o Reino de Deus como uma construção política por vir, mas sim uma conversão pessoal e imediata.

Então, a minha dúvida foi sanada. Jesus dizer que é mais fácil entrar um camelo no buraco da agulha do que um rico no reino dos céus pode ter vários sentidos. Mais do que a  , revolta Jesus ensinava a pobreza.  “Felizes os pobres não  espírito, porque eles são o Reino dos Céus” (Mateus, 5, 3).  Felizes porque eles não são os opressores.  E, também,  porque eles têm o coração livre e as riquezas são obstáculos à verdade. Ele dizia da abnegação e renúncia as questões materiais como uma das prerrogativas que todos temos e muitos fazem esta opção. A LIBERDADE  de fazer esta opção. Para mim a virtude estará no meio, o materialismo em excesso assim como o radicalismo espiritual não são bons, eu acho, mas deve ser opção de cada um.

E digo mais, ele foi "o cara".  Não existe e nunca existirá alguém igual.

Antes dele tivemos muitos profetas, pregadores e sacerdotes, depois também, mas ninguém conseguiu reunir as multidões que ele reuniu, pregar sua filosofia e deixar permanecer por 2022 anos sua pregação. E os milagres e os feitos que desafiam a ciência conhecida, com relatos e testemunhas que podem ser até questionáveis como a própria existência de Jesus já foi questionada. Ele existiu, é fato e permaneceu até hoje e ficará por toda história da humanidade.

Pode apostar que seus ensinamentos foram responsáveis pela nossa evolução, como ser humano e como civilização, não tenho a menor dúvida disso, antes pensava assim, hoje tenho certeza.

A questão da divindade de Jesus, o mistério de Deus, Pai e Espírito Santo ainda será discutida pela eternidade. Esta celeuma, que pode parecer, foi responsável por guerras e mortes de inocentes, mas é parte da história e só nos cabe conhecer e entender.

O mais interessante de ler uma "biografia" como esta é que a gente consegue distinguir entre o que é ter fé e acreditar, eu consegui atingir isso. Ateu, agnóstico, cristão, ou outro tipo qualquer vai entender o que foi Jesus Cristo e fazer seu juízo de valor.

Querer o bem não é privilégio de nenhuma filosofia ou regime político, as boas intenções estão em todos e todas.

O uso político de religião e fé é inerente ao ser humano, mas para isso a virtude estará sempre no meio, os extremos são sempre ruins.

Jesus definitivamente não foi socialista pois a premissa dele era a liberdade e seus ensinamentos que podem se confundir, mas não conflitam com a liberdade, o maior direito que todos devemos ter junto com o direito a vida. Simples assim.