sábado, março 14, 2015

JK e os Militares de 64





Sempre achei que JK - Clique e leia não era tão hostilizado pelos militares dos anos 50 e 60. Quando ele ganhou a eleição em 1955 teve problemas e tentativas de golpes, mas resolveu tudo. Achava que a real implicância era com o João Goulart, o Jango, desde os episódios no governo Vargas onde foi ministro do trabalho e causou grande celeuma. Jango como vice de JK , na minha modesta visão, era o causador desta rejeição a JK. A eleição de vice presidente nesta ocasião era desvinculada da de presidente e Jango conseguiu duas vitórias. Uma em 1955 com JK na cabeça de chapa e a outra em 1961 com Jânio Quadros que depois de 7 meses renunciou e acabou criando grave crise institucional, porque os militares não aceitavam Jango. Houve a tentativa de parlamentarismo. Tancredo foi o primeiro ministro (tivemos mais dois: Brochado da Rocha e Hermes Lima). Poucos sabem, mas Jango deu um "golpe" e antecipou o plebiscito que seria em 1965, para 1963. Este plebiscito decidiria a volta ou não do presidencialismo. Jango popular e populista acabou ganhando e ,óbvio, tinha seus interesses para volta ao poder pleno. Acabou em mais crise política e institucional e com graves prolemas econômicos e ameaça de golpe da esquerda (estávamos no auge da guerra fria), os militares deram o contra golpe de 1964.
O grupo de JK era o PSD, base forte em MG. Ele tinha seu grupo com grande força e excelentes quadros. Meu pai era um deles, o que muito me orgulha. 
Em 1965 Israel Pinheiro ganhou o governo de Minas Gerais e este grupo acabou se dividindo, mas não sem deixar de lutar pela democracia e os ideais das Alterosas.
Quando JK foi cassado, parte deste grupo seguiu o mesmo rumo. Meu pai fez um belo discurso chamado Protesto de uma Geração e quase foi junto. Como era do grupo de Israel conseguiu se salvar.
Uma grande ironia é que JK promoveu a General de Exército dois grandes protagonistas da Revolução de 1964: Generais Olímpio Mourão Filho e Castelo Branco que acabou assinando a cassação dele em 64. JK era senador eleito por Goias em 61 por uma grande e genial artimanha política. JK já tinha lançado o JK 65, campanha que pretendia a volta dele a presidência.
Aliás JK foi , senão o melhor, um dos melhores presidentes que tivemos, com prosperidade, justiça social, desenvolvimento e liberdade.
Se quiserem saber mais sobre JK, de forma sumária e interessante, leiam o livro " O essencial de JK" de Ronaldo Costa Couto. Excelente. Clique e veja

Na verdade esta postagem é mais para divulgar um fato e documentado que me esclareceu a desavença que os militares tinham com JK. Eu achava que era por causa de Jango, que em parte a ligação deles aumentava esta desavença, mas os militares temiam JK, com certeza os da linha dura.
Tenho quase certeza que Castelo Branco, que não conseguiu enfrentar a linha dura de Costa e Silva, deve ter ficado muito incomodado quando assinou o ato que cassou JK em junho de 1964.

A ironia do destino fica por conta que um integrante do grupo de JK, Tancredo Neves, foi o grande artífice e articulador que derrubou a Revolução de 1964 em 1985 quando ganhou de Maluf no colégio eleitoral. 
Concluindo e saindo do passado para o presente, posso garantir que estamos vivendo grave crise institucional e política, agravada pelos problemas econômicos. Não dá para comparar com outras crises que tivemos, mas fazer uma analogia é possível.
O congresso atual está muito desgastado, mas o parlamentarismo poderia ser uma tentativa de arrefecer esta grave crise em que estamos metidos. 
Uma coisa eu garanto, algo precisa ser feito e mudanças profundas devem acontecer nos rumos do Brasil. espero que seja sem traumas.

Vamos voltar ao grupo político de JK. Vejam que interessante esta matéria.

Brasília – Oito anos depois de deixar o governo, o ex-presidente Juscelino Kubitschek ainda era motivo de preocupação dos militares que assumiram o poder pelo golpe de 1964. Documentos produzidos pelos serviços de informação em 1969 mostram o temor que o regime tinha de JK, principalmente de ele voltar à vida política em Minas Gerais. Um deles, da Segunda Seção do I Exército, analisa a situação do estado e conclui que seria necessário dissolver a corrente do ex-presidente, avaliando que isso seria uma questão de “sobrevivência para a revolução de 64”. O relatório sugere também que outras pessoas ligadas a Juscelino, como Tancredo Neves e Israel Pinheiro, tivessem seus direitos cassados.

Com 11 páginas, o documento intitulado Situação político-social de Minas Gerais teve uma difusão restrita e somente circulou no Serviço Nacional de Informações (SNI), Centro de Informações do Exército (CIE) e Comissão Geral de Investigações (CGI). O relatório foi produzido em Juiz de Fora em 8 de maio de 1969 e foi encaminhado para o comando do I Exército — que provavelmente o solicitara — pelo general Itiberê Gouvêa do Amaral, que chefiava o quartel-geral regional na cidade mineira. Na introdução, os militares afirmam que todas as informações que constavam no dossiê foram adquiridas com funcionários públicos federais e do próprio governo, inclusive secretários de Educação, Segurança e Finanças.

Na análise da situação política, os militares mostram claramente que havia uma rejeição ao governador Israel Pinheiro, que fora eleito depois do golpe militar de 1964. Ele é apontado como um “partidário ferrenho” de Juscelino, que teria indicado políticos para atuar na administração e também comandar a Assembleia Legislativa. “A corrente política do sr. Juscelino Kubitschek está cada vez mais fortalecida. Tão fortalecida está que, no momento, o seu desfacelamento torna-se, sem dúvida alguma, uma questão de sobrevivência para a revolução de 64”, observa o araponga em seu relatório.

Adiante, o documento sugere ao comando do I Exército algumas providências, como uma intervenção federal em Minas, recesso na Assembleia Legislativa e o controle sobre as secretarias, sobretudo as de Segurança e de Finanças. Porém, as ações não ficariam nas questões administrativas, mas também em outros campos. “Complementando qualquer das linhas de ação, necessário e imprescindível se torna a eliminação política, através de cassação de direitos políticos e mandatos eletivos, de elementos reconhecidamente inimigos da revolução de 64 ou mesmo daqueles que, por suas simples ligações políticas, desprestigiam a ação desse movimento, enfraquecendo-o”, destaca o serviço de informações no relatório.

Mobilização

Os militares se referiam claramente a Juscelino, a quem temiam, como eles próprios admitiram. “Entres estes últimos (os grupos políticos), já por uma questão de sobrevivência, é necessário que, desde logo, se apontem nomes ligados a Juscelino Kubitschek, personalidade que ainda pode realmente convulcionar politicamente o estado e que efetivamente congrega politicamente força eleitoral considerável, mas nunca temível. São eles: Tancredo Neves, Renato Azeredo, Hugo Aguiar, Ozanan Coelho, Murilo Badaró, Israel Pinheiro Filho, Crispim Jacques Bias Forte, na área federal; Pio Canedo, Manoel Costa, Delson Scarano, João Navarro, Orlando Andrade e Jairo Magalhães, na estadual”, recomenda o documento.

O relatório feito pela Segunda Seção, que é o serviço reservado do Exército, ainda recomenda que as ações contra a corrente de Juscelino não devam ser pontuadas. “Na conjuntura atual, mais válida e necessária se torna a ofensiva sobre o grupo e seu significado do que a preocupação de atingir somente os elementos isolados”, observa o araponga no relatório encaminhado a seu superior. “Ou se destrói o grupo de possibilidade germinadora ou ele crescerá e abafará, liquidando o esforço até então dispensado no sentido de moralização político-social do estado e mesmo da nação”, encerrou o oficial.