segunda-feira, agosto 20, 2007

Entendendo a Bolsa de Valores


A mídia ainda fala na crise, arrefecida, mas sem ainda desfecho e qual foi a contaminação da economia real. A Bolsa de Valores, vilã e protagonista do pânico pode gerar oportunidades. Clique e veja matéria - Crise cria cenário para investimento na bolsa - Terra Notícias.

Fiz um histórico da bolsa e algumas considerações, meu próximo artigo. Para quem não sabe, atuei como operador e fui sócio de uma distribuidora com muitas horas de operação, ganhos e perdas.


A bolsa de valores: nervo do capitalismo?
O investidor profissional tem coração de passarinho, pernas de lebre e memória de elefante. Axioma popular


Um histórico da bolsa: O exercício da compra e venda de ações, ou o seu equivalente, é conhecido e foi praticado na Roma antiga, mas foi somente no século XV, nos tempos do Renascimento, que o movimento bursátil tomou a sociedade. Surgida, segundo alguns historiadores, na cidade de Bruges, na atual Bélgica, o comércio com papéis tomava rumo a partir do ano de 1487. A Meca da bolsa se deu na “New York Stock Exchange” em 1792, a hoje mundialmente famosa Wall Street. Max Weber, sociólogo, economista escreveu Die Börsen, (A bolsa, 1896). Ele se preocupou em acalmar a sociedade quanto à realidade e legitimidade da bolsa de valores, afinal, buscar recursos para expansão via mercado é melhor do que tomar empréstimo ou ter apadrinhamento de governos, sempre sujeitos a corrupção e burocracia.
Qual é a essência da bolsa de valores, o mercado de capitais? A capitalização de empresas, negócios. Empresas estabelecidas vendiam a promessa de ganhos a quem “apostasse” no negócio deles. Os compradores eram investidores que iriam auferir lucros no dinheiro aplicado. A aposta, no que vai dar certo ou errado, sempre será um jogo, e como tal, o jogo com ações sempre foi restrito a pessoas abonadas e muitas vezes visto como algo pouco confiável. Hoje é democrático e transparente. Empresas sérias, a grande maioria, lançam papeis e ações buscando capitalização através do mercado. Os investidores buscam lucros, resultado via dividendo. Esta é a lógica da bolsa e do mercado de capitais.
A bolsa de valores não é filantropia, nem é o pilar do capitalismo, mas uma das suas ferramentas. Sempre existirão os ganhadores e os perdedores. O primeiro grande trauma foi o “crash” de 1929 nos Estados Unidos. No caso brasileiro, tivemos períodos de euforia, ganhos e perdas na década de 70, ou em 1987 com os problemas da bolsa americana repercutidos aqui. Nos anos 80 tivemos no Brasil o ápice dos derivativos, das opções de compra e venda e o caso famoso do Nagi Nahas que tomava dinheiro em banco para “alavancar” suas posições. Hoje a história se repete, desavisados e incautos serão sempre parte do “jogo”. O mercado está maduro e lições foram aprendidas? Com certeza. Precisa melhorar? Continuamente, mas crises sempre irão existir, pelos ciclos ou por desmandos, é parte do processo. A tecnologia e crises evoluíram mecanismos de controle e fiscalização.
O maior problema das bolsas é o ciclo, especialmente causado pela liquidez, excesso ou falta. Uma hora vai existir um ajuste, correção da curva, é inerente do processo. Os especuladores, normalmente, jogadores, dispostos a perder ou ganhar muito, vão atuar sempre em cima deste movimento. Com toda certeza eles dão liquidez ao mercado, são importantes e vitais peças no processo.
Qual a diferença entre o especulador e o acionista? As bolsas, em tese, são para pessoas que investem em empresas e negócios que darão lucro. Não se deve pensar na bolsa com mentalidade de curto prazo. A rentabilidade vai remunerar o dinheiro investido e a empresa vai crescer gerando um ciclo virtuoso. O especulador joga com as mudanças de trajetos no processo, a chamada volatilidade dos títulos, mas dá liquidez a este mercado. Jogar ou investir? Isso distingue o acionista do especulador. O mercado cíclico em seu processo natural respeitará a lei da oferta e da procura, quando mais pessoas dispostas a comprar, o preço tenderá a subir, quando a pressão é vendedora, os preços cairão. O investidor em boas empresas nunca deverá perder, pelo menos em tese, ele não vende o “papel”, compra para ganhar com os dividendos. Tecnicamente existem variações de investimento, “Hedges”, financiamento com opções de compra e venda etc., mas fica para outro artigo.
As bolsas são mecanismos sérios de capitalização para as empresas, de remuneração do capital para os investidores. Sempre devem ser reguladas, assistidas e fiscalizadas pela sociedade e pelo governo. O processo do capitalismo tende a proteger os poderosos, potentados, a má fé pode estar presente e a suspeita gera a eterna vigilância. Perdedores e ganhadores? Naturalmente os dois. Especuladores ou investidores? Ambos. Este é o fascinante mercado de capitais.
A virtude sempre estará no meio e o equilíbrio tenderá para forças naturais. Crises em bolsas significam o fim do capitalismo? Nunca, mas devemos aprender com os erros, sempre tentando melhorar. Ainda existem pessoas que afirmam que esta é a última crise do capitalismo e agora ele chegará ao final. Absurdo e irreal. Não deixo de repetir, capitalismo é processo, qualquer outra coisa será projeto. Processo se ajusta e tende ao equilíbrio, sempre, são as leis naturais, projeto pode falhar, tem a mão do ser humano falível. A grande virtude do capitalismo é a liberdade, vende e compra quem quer, e o que quiser.

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