quarta-feira, janeiro 17, 2007

A origem dos problemas?

Sempre ouvimos falar que nossa colonização era a origem dos problemas desta nação. Acabo de ler o quarto livro da Coleção Terra Brasilis de Eduardo Bueno, A Coroa, a cruz e a espada, me fazendo refletir na verdade sobre a origem de nossa cultura oportunista, burocrática, corrupta e irresponsável.
Nos idos de 1500 a 1550, os abusos da igreja católica, o mercado burguês e os pensadores renascentistas rebentaram uma contra ação dos reinos que entraram em fase de centralização e controle, aqui começa nosso calvário burocrático, ou pelo menos se acentua.

Alguns fatos mencionados por Eduardo Bueno em A Coroa, a cruz e a espada que merecem registro:
1-Portugal tinha duas moedas, o Cruzado e o Real. Um cruzado equivalia a 3,5 gramas de ouro e 400 reais da época. Uma analogia com o dólar atual, que não existia, podendo ser considerado pela paridade com o ouro chegou ao seguinte: um Real valeria Us$ 6,0 dólares se este existisse na época.
2-O salário mínimo era de 360 reais (60 Us$), um pedreiro recebia: 600 reais (100 Us$), um marinheiro: 900 reais (150 Us$), todos, salários mensais.
3-Agora vejam os abonados, protegidos pelo estado ou pela igreja, tão mandatária como os governos ou mais: Um Escrivão: 3.330 (555 Us$), Corregedor de Justiça: 14.166 (2.361 Us$), Provedor-mor, uma espécie que cuidava das finanças: 16.666 (2.777 Us$).
Nota-se que a diferença é brutal e guarda muita semelhança com nossos dias.
O livro aborda a instalação do primeiro governo geral, a criação de Salvador. O governador Tomé de Souza, com proventos de 400 mil anos, 33.333 reais por mês (5.555 Us$) parece que era sério e preparado. Foram gastos um milhão de cruzados, correspondentes a 60 milhões de dólares se existissem e comparados pela paridade ouro. É uma fortuna para hoje, imagina na época.
O estado colocava suas garras nas questões de arrecadação, justiça e controle e eram nomeados os chamados “letrados”: Juizes, desembargadores, ouvidores, escrivães, meirinhos, cobradores, vedores, almoxarifes, etc. Eles eram designados abundantemente pelo poder real e seus asseclas. Segundo o livro, apesar dos altos salários, desviavam verbas públicas e recebiam propinas. Qualquer semelhança com o que vivemos atualmente não é mera coincidência.

No ano de 1549 vem para o Brasil Tomé de Souza, e sua trupe. Foram muitos colonos, armeiros e assessores, mas seus auxiliares diretos, Antônio Cardoso de Barros,Provedor-mor (espécie de Ministro da Fazenda) e Pero Borges, Ouvidor geral,(espécie de juiz) tinham antecedentes de corrupção e foram acusados posteriormente pelos mesmos crimes. Vejam bem, naquela época a cúpula já tinha máculas. As nomeações eram apadrinhadas pelo Rei João III e seus amigos.
Relatos da ineficiência eram enormes, do nepotismo e protecionismo aos amigos também. Isso levou o governante a realizar as obras por empreitada e a corrupção é relatada como abundante e constante. Não parece que o filme está sendo repetido atualmente?
Um detalhe impressionante: A justiça era diferenciada e os “fidalgos” (filhos de algo) recebiam punição diferenciada do “peão” (homens a pé). A ascensão social além dos ganhos pecuniários proporcionava tratamento diferenciado na justiça e isenção de impostos. Mais um vez não parece clara que a herança é antiga e passa de geração para geração? Aqui, mesmo com um sistema judicial e tributário evoluido, ainda assim os poderosos conseguem se safar.
Outro dado: O poder da igreja era incomensurável e nosso primeiro Bispo, Pero Sardinha aprontava e roubava como ninguém. Máculas de séculos persistem.
Impressionante, não é?
Faça analogia a outras colonizações, como a dos EUA, e comparem.
Minha tese pode estar furada, mas precisamos repensar o Brasil.
Vale a pena ler os quatros livros, a história é simplificada, romanceada, objetiva, com fontes e referência bibliográficas de alta relevância.

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