segunda-feira, outubro 22, 2018

Thomas Jefferson e a Inconfidência Mineira



Lendo o excelente livro de Lucas Figueiredo, descobri detalhes que não sabia sobre a Inconfidência Mineira. A história pode até ter sido contada desta forma, mas nunca explorada. Eu como leitor inveterado e apreciador da história já constatei isso. No meu primeiro livro explorei muitas coisas pouco exploradas na história, no segundo livro também.
A biografia de Tiradentes, eu adoro biografias, é muito bom. Das páginas 133 a 159 o autor mostra a gestação da Inconfidência Mineira e  a participação de Thomas Jefferson.
Só lembrando, Thomas Jefferson (clique e leia mais sobre ele) foi o principal autor da Declaração de Independência dos EUA.
Nos idos de 1700 , sob a influência do Iluminismo e da Independência Americana, começou a ser gestada a nossa Inconfidência Mineira,na verdade em Coimbra, Portugal.
No Brasil, segundo o livro, prevalecia o analfabetismo e falta da cultura. Isso pode ter sido até motivado pelos portugueses que não queriam a influência do Iluminismo nas terras brasileiras. Era raro livros e pessoas alfabetizadas. A elite mandava seus filhos para estudar nas universidades europeias.
O Brasil sob forte pressão de Portugal na ganância pelo ouro, já em fase de esgotamento do aluvião, começa a motivar a sedição.
O Brasil especialmente Minas Gerais chegou a mandar 11 toneladas de ouro para Portugal anualmente, quase a produção mundial toda.
A importância da exploração do ouro de aluvião (fácil de ser explorado) fez de Vila Rica, nossa Ouro Preto, a principal cidade do Brasil nos anos de 1700 com 79 mil habitantes, enquanto o Rio de Janeiro tinha 29 mil habitantes.
A revolta da elite com o abuso e os estudantes da Universidade de Coimbra começam a conspirar para a independência do Brasil. A inconfidência Mineira tinha esta inspiração, talvez não de todo o país, mas de Minas Gerais, o que atendia a todos interesses locais.
Pois bem, Thomas Jefferson depois da Independência Americana foi embaixador em Paris, a cidade das luzes.
Um estudante e Conspirador brasileiros chamado José Joaquim Maia e Barbalho (Clique e leia sobre ele), sob o pseudônimo de VENDEK, trocou algumas cartas com Jefferson, inclusive se encentraram pessoalmente. Segundo relatos, Jefferson se prontificou a ajudar, como deu orientação ao jovem estudante, precursor da sedição mineira,

Uma das cartas:

Montpellier, França, 21-11-1786.
Segunda carta de Vendek (José Joaquim da Maia) a Thomas Jefferson, resposta à deste de 16 -10 -1768 escrita de Paris. (original em francês)
Senhor:
Acabo de receber a honra da vossa carta de 16 de outubro e muito me penaliza não a ter recebido mais cedo, mas tive de ficar no campo até agora por causa de minha saúde e já que vejo que as minhas informações vos chegam às mãos com segurança vou ter a honra de as comunicar.

Sou brasileiro e sabeis que a minha desgraçada pátria geme em atroz escravidão, que se torna todos os dias mais insuportáveis depois da vossa gloriosa independência, pois que os bárbaros portugueses nada poupam para tornar-nos desgraçados com medo que vos sigamos as pisadas, e como sabemos que estes usurpadores, contra a lei da natureza e da humanidade, não cuidam senão de oprimir-nos, estamos decididos a seguir o admirável exemplo que acabais de dar-nos e, por conseguinte, quebrar as nossas cadeias e fazer reviver a nossa liberdade, que está de todo morta e oprimida pela força, que é o único direito que os europeus tem sobre a América.

Mas cumpre que haja uma potência que dê a mão aos brasileiros, visto que a Espanha não deixará de unir-se a Portugal e, apesar das vantagens que temos para defender-nos, não o poderemos fazer, ou pelo menos não seria prudente aventurar-nos, sem certeza de sermos bem sucedidos.

Isto posto, senhor, é a vossa nação que julgamos mais própria para ajudar-nos, não somente porque foi quem nos deu o exemplo, mas também porque a natureza fez-nos habitantes do mesmo continente e, por conseguinte, de alguma sorte compatriotas; pela nossa parte estamos prontos a dar todo o dinheiro que for necessário e a manifestar a todo tempo a nossa gratidão para com os nossos benfeitores.

Senhor, aqui tendes pouco mais ou menos o resumo das minhas intenções, e é para desempenhar esta comissão que vim à França, visto como eu não podia na América deixar de suscitar suspeitas naqueles que disto soubessem. Cumpre-vos agora ajuizar se elas são realizáveis e, no caso de quererdes consultar a vossa nação, estou habilitado para dar-vos todas as informações que julgardes necessárias.

Tenho a honra de ser com a mais perfeita consideração, senhor, vosso muito humilde e muito obediente servo.

Em Montepellier, 21 de novembro de 1786.

Fonte: Autos de Devassa da Inconfidência Mineira. Vol.8. Câmara dos Deputados. Brasília. 1977. - Clique e leia

O restante da história muitos conhecem e todos estudamos. Fica aqui a curiosidade que descobri neste livro, e tenho certeza poucos sabem.
Podemos inferir que Thomas Jefferson deu apoio a inciativa, clique e leia relatório de Thomas Jefferson ao secretário de Estado dos EUA.
Fico imaginando se a Inconfidência Mineira tivesse sido bem sucedida e tivéssemos tido a influência dos EUA, como seria o Brasil hoje.
Nunca saberemos, é verdade, mas dá para imaginar e sonhar com um Brasil que nunca existiu.

Um comentário:

Fernando Jorge disse...

Muito bom Murilo, desconhecia, também, esse pedaço da história que não nos foi ensinado no CDB. Fernando Jorge