sexta-feira, janeiro 11, 2013

Comparativo simples entre o apagão de 2001 e a ameaça de 2013


Sem entrar em números precisos e evitando entrar demais em detalhes técnicos, vou tentar colocar algumas informações para que as pessoas possam entender um pouco o que acontece agora e o que aconteceu em 2001.
Como todos podem ver, nossa matriz energética de eletricidade é uma das mais limpas do mundo, se não for a mais limpa. As fontes são na grande maioria renováveis. Isso é bom, mas tem o outro lado da moeda, como é o caso aqui: Dependemos de água.
O setor tem tecnicamente dois períodos:
  1. Período úmido (U): será de 5 (cinco) meses consecutivos, compreendendo os fornecimentos abrangidos pelas leituras de dezembro de um ano a abril do ano seguinte; 
  2.  Período seco (S): será de 7 (sete) meses consecutivos, compreendendo os fornecimentos abrangidos pelas leituras de maio a novembro.
A água conseguida nos reservatórios durante as chuvas é usada no período seco e dai é importante de uma gestão competente para saber operar o sistema que é todo interligado atualmente. SIN é o nome, operado pelo ONS (Operador Nacional do Sistema)- Clique e veja mais
Obs: Nosso sistema é um dos mais respeitados do mundo por esta interligação colossal.

As UTEs (Termoelétricas) usam carvão e combustível fóssil Óleo diesel e óleo Rasf) são consideradas de back up e para eventualmente alguma manobra do sistema. As usinas nucleares rodam normalmente aqui e em muitos países como a França são a base de sua matriz. Nos EUA a base é carvão e petróleo, China carvão e por ai vai, aqui a água.
O Brasil tem  várias  UHEs (Usina Hidroelétricas)140 usinas e previsão de mais 71 até 2017, destas todas, instaladas e em instalação, 28 são na região Amazônica. Existem também diversas PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas), inclusive relevadas há muito tempo por este modelo, O Brasil tem hoje um total de quase 2.475 empreendimentos gerando energia em fontes diversas, quase que 99% operados pelo ONS, porque alguns menores não são.
Detalhes, nosso centro de carga é o Sudeste e depois o Sul, aliás 70% de nosso PIB está localizado nestas duas regiões.
Para se evitar custos de transporte da energia, a transmissão, que custa caro e tem perdas, nossas usinas principais estão nesta região e Itaipu no sul. A Bacia do Rio Grande é a principal com, se não me engano, 14 usinas UHE. Para vocês terem uma idéia, as usinas do Rio Madeira, Santo Antônio e Girau vão ter linhas de 3.000 km para trazer energia até o centro da carga  aqui no Sudeste.
Um dado importante, sem entrar em dados muito técnicos: Existe um negócio chamado fator de capacidade, por exemplo, em média, das UHEs digamos 55%, das UTEs, 85%, da Eólica 35%, da solar 18%. Estes números são a ordem de grandeza das fontes porque para dar o exato FC da usina e da fonte precisa-se de mais dados e informações.
Enfim, ter uma capacidade instalada não significa que temos toda este energia para produzir e consumir e além disso as fontes tem produção sazonal, que não entrarei em detalhes porque é complexo. É PRECISO ADMINISTRAR E GERENCIAR ESTA ENCRENCA TODA. 

Em 2001 - Tínhamos um potencia instalada de  70 mil MW e em 2000 eramos o décimo segundo consumo mundial de energia. O Sistema não era totalmente interligado, faltavam linhas de transmissão em alguns sub-sistemas.
Havia algumas mudanças no modelo que relevaram a questão de planejamento e coincidentemente nesta época começou  o aumento do embate entre ambientalistas e autoridade e empreendedores que suscitaram atrasos em obras. Resultado: Não veio a chuva, os reservatório principais não tiveram a reposição do combustível, as obras planejadas furaram o cronograma, a água foi pouca e não tínhamos as UTEs para segurar a onda do sistema.Resultado: Crise enorme.
Detalhe interessante: No Sul os reservatórios vertiam água, mas por falta de linhas de transmissão não puderam trazer esta energia e amenizar o problema aqui no Sudeste. Naquela época, Janeiro de 2001, os reservatórios estavam com 28% da capacidade. Em julho de 2001 foi decretado o racionamento ou gestão da crise como falaram. Duraria até setembro de 2002, mas choveu muito em dezembro de 2001 e em fevereiro ele foi suspendo. O Brasil perdeu uma montanha de dinheiro, empresas, sociedade, todo mundo. Estima-se mais de 50 bilhões de reais, mas acho que este número é incomensurável.
Uma nota: A crise foi antecipada e muito bem gerenciada por Pedro Parente, chefe da casa civild e FHC. Se não fosse a gestão competente do comitê criado, o estrago seria maior. Isso custou caro a imagem de FHC e a eleição de Serra em 2002.
O Brasil cortou 20% da carne energética.


Em 2013 - Olhem os dados de nossos reservatórios- Fonte G1- Clique e leia:  Eles estão em níveis pré racionamento de 2001, ou seja com 28% da capacidade.
Algumas observações:
Nossa capacidade instalada hoje é de 120 mil MW, existem linhas de transmissão interligando todo sistema, mas os reservatório do Sul não estão bem como em 2001, ou seja o quadro é um pouco pior neste cenário.
Existem as UTEs. São 68 usinas, muitas delas criadas no apagão de 2001. Elas deveriam servir de backup como falamos, mas atualmente estão rodando, desde outubro de 2012.
Um dado importantíssimo: Vamos dizer que o custo médio da energia em geral (UHE, éolica, etc) é de R$ 100,00 por MW/h (é médio porque depende de outras variáveis para se dar o número preciso). O das UTE são em média R$ 600,00 MW/h e em alguns casos até mais, este é o médio.
Dai o problemão e o porque temos que usar a água. Quando as térmicas são usadas, o Brasil paga por isso e caro. Quanto mais usada, mais caro fica.

As chuvas virão, não temos dúvidas, mas a questão é quanto vai chover e quanto vai recompor os reservatórios. Segundo informações que ouvi, não mencionarei a fonte, se chover neste período que falta 80% da média do ano passado, ainda assim precisaremos das térmicas durante o ano de 2013, porque só seriam recompostos 50% do estoque de água.

O que aconteceu? Os reservatórios estavam bem, o Brasil não cresceu (PIb de 1% em 2012), o que houve?

É difícil precisar porque o setor elétrico é complexo demais, mas algumas conclusões falam de má gestão do SIN.
Uma outra tese vai na linha do viés ideológico de segurar tarifas, a tal modicidade tarifária, e para não jogar custos das UTEs e manter a modicidade, usaram mais água do que deveriam.
Outro problema é a questão de usinas a "fio d'água" com reservatório pequeno (por questões ambientais). Isso derruba a produtividade.
Atrasos de obras, por motivos diversos, inclusive questões ambientais de licenciamento, demandas jurídicas, MP, etc.
São muitas causas e a complexidade da questão não permite acusações ou conclusões precipitadas.
Uma coisa é certa: A crisew é séria. Existe um problema grave e complexo.
Estamos precisando de mais planejamento no Brasil, mesmo em outras áreas de infraestrutura.

Não deve haver racionamento, mas o problema persiste e deverá ser postergado para 2014.
Vamos continuar rezando e torcendo.
Como já disse e repito. Governos passam, modelos passam, mas a nação fica e precisamos pensar no futuro. Um apagão agora arrebenta este Brasil já tão cheio de problemas.

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