sábado, dezembro 19, 2015

A Agonia da República III. Mágica na economia?



A cada ação corresponde uma reação. Na física é assim, na economia também é.
2015 acabou. Crise política, econômica e agora podemos ter um embate grave e sério entre a CD e o STF.
Na economia a troca de Joaquim Levy por Nelson Barbosa mostra um caminho que não dá nenhum alento para a arrumação da economia e a retomada do crescimento.
O estado está esgotado, quebrado e sem ajuste das contas e retomada do crescimento não existe chance da economia funcionar.
Levy entrou com a pecha de banqueiro, da escola de Chicago ele sabe das coisas. Propôs ajuste nas despesas para equilibrar as contas. Foi derrotado várias vezes. Durou muito, eu achava que não durava 6 meses.
Assumindo déficits e pior, gerando déficits eu pergunto: Como eles vão tocar a economia daqui para frente?
Nenhum corte de despesas foi feito, perdemos o grau de investimento, isso significa que a entrada de recursos externos, via investimentos ou mesmo crédito, será mais cara e problemática.
A falta de liquidez do sistema econômico causada pela recessão já afeta as pequenas cidades que têm dependência explicita do dinheiro público. Sei de vários casos.
No cenário inexorável de recessão e inflação, a chamada estagflação, a perda da renda, desemprego e quebra da credibilidade do setor produtivo são combustível na fogueira dos problemas.

Vamos lá deixar registada aqui algumas linhas que o novo ministro pode adotar e comentar algumas opções que ele não pode tentar:

  1. A escola de economia de Campinas, que parece inventou a tal nova matriz econômica, insiste na premissa crédito e consumo como indutor da retomada do crescimento. Pergunto: Com 50% da renda comprometida, desemprego rondando e perda do poder de compra, como as famílias farão para tomar crédito ou aumentar o consumo? Impossível. Na ponta do setor produtivo, com os juros de usura e a recessão que só alimenta perspectivas futuras negativas, não podemos esperar investimentos.
  2. O cambio  pode ser uma ferramenta deles, vamos ver: O real está depreciando e em tese isso favorece as exportação. Entretanto nossa força são as commodities e só um novo "boom" mundial poderia ter este pilar para puxar a economia. O mundo está bem, mas não há perspectivas de "boom", ou seja, não podem contar com isso. Se aumentam (depreciam mais)para tentar via exportação, vão quebrar a cara e correm riscos,, como veremos.
  3. O cambio , pela nossa dependência das importações e o sucateamento da indústria nacional (que chegou a níveis dos anos 40 e 50 na relação da participação do PIB) se aumentado é lenha na fogueira da inflação que já é uma grande ameaça.
  4. Aumentar gastos públicos como indutor de investimentos não funciona. O tal PAC que inventaram, até bem intencionados, naufragou solenemente. O estado está quebrado, nosso país tem amarras burocráticas e uma tentativa nesta linha seria um tiro no pé e mais frustração das expectativas que só colabora para agravar o problema econômico.
  5. Aumento de juros, que seria uma forma ortodoxa de combater a inflação é o pior dos flagelos, principalmente para os pobres, Além de comprometer o crescimento com a queda de investimentos, há aumento da dívida pública que hoje já consome 40% do orçamento. Sobe juros, sobe a dívida e reduz ainda mais a liquidez.
  6. Corte de despesas e ajustes, nem pensar, Levy cai por conta disso. Governos populistas não sabem cortar gastos e por isso quebram os países quando governam.
O que eles podem ou poderiam fazer então?
  1. Tabela o cambio para combate a inflação sem ser via juros. Isso poderia ser feito com uma sobrevalorização, por exemplo, colocando a R$ 5 x US$ 1 e depois congelando. . Isso ajuda a exportação e no médio prazo pode arrefecer a inflação.  O resultado pode aparecer, mas seria um tiro no pé e mais comprometimento do futuro.
  2. Um calote na dívida. Outra medida que daria efeito no curto prazo, pois aumentaria a liquidez do governo, mas ferraria com nossa credibilidade e nosso futuro. Não acho provável, mas também não é impossível. No mundo globalizado seria uma ação que pode isolar o Brasil e nos ferrar ainda mais.
  3. Conseguir alguma forma de rolagem desta dívida, mudando o perfil, alongando o prazo, pagando mais juros. Como já estamos na ciranda financeira com a Selic a 14, 25%, mas a criação de mais papeis c como ocorreu nos anos 70 e 80 com o open market e over night não podem ser descartados porque é uma forma de dar liquidez, principalmente aos atores públicos.  Esta é uma medida que está sendo já especulada e pode ser uma opção. A forma e não o conteúdo pode determinar a eficácia da medida e os benefícios. Ou seja, pode ser bom se não cometerem erros.
  4. Abaixar os juros tem vantagens e desvantagens, mas como indutor da economia, sem credibilidade será tiro no pé. 
  5. Volta na linha do crédito e consumo  não tem como, mas pode ter algum "gênio" que queira inventar moda. Esquerdistas são mestres em querer "reinvetar" a roda.
  6. O orçamento aprovado para 2016 já vem errado. Eles colocam a previsão da CPMF e isso depende do congresso. Governo forte tem dificuldades de aprovar aumento de impostos, governo fraco então, nem pensar. 
  7. Só rezo e espero que não tentem inventar a roda, porque pode nos ferrar ainda mais.
As aventuras na gestão econômica são punidas com  rigor. Nosso caso é um exemplo de  que estamos com graves problemas por erros cometidos. Uma coisa é um projeto e outra é um processo. Projeto falha, processo não. O mercado e a economia são regidas pelas leis naturais de um processo. O máximo que se consegue é administrar este processo, sempre com um caminho em detrimento de outro. Sempre sabendo que se mexe aqui, pode alterar acolá e ai está o papel do economista. Não deixar o fluxo natural se degringolar.

Eu apostaria na mudança do perfil da dívida pública, com riscos e ameaças de quebrar contratos e regras, o que seria danoso. Se forem nesta linha precisam ter muito cuidado.

O legislativo terá um papel muito mais importante do que já está tendo. Ele pode frear eventuais aventuras econômicas. As reformas estruturais como a da previdência, tributária, política, não vão passar com um governo enfraquecido, cheio de problemas econômicos, caminhando para problemas sociais.
Vamos aguardar. O impeachment está ai, difícil, mas não impossível de ser aprovado.
O mercado nos observa com desconfiança, principalmente pelo viés esquerdista que esta nova equipe econômica tem e pode fazer bobagens.
A agonia da república pode estar no fim, mas pode ser a morte da república definitiva. 
Governo de coalizão,  impeachment, parlamentarismo, algo precisa ser feito.
A mudança na equipe econômica não traz bons ventos. Infelizmente.  Espero estar errado.

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