sábado, setembro 21, 2019

Direita x Esquerda ?

Direita x Esquerda

Publicado no Site Gazeta Livre- Clique e veja
Quando se fala em direita e esquerda falamos de regime econômico, de socialismo e capitalismo. Muitos confundem com regime político, mas não é. Os neologismos, liberais, neoliberais, progressistas, conservadores, socialismo do século XXI, etc. não passam de retórica, a essência está na forma como é conduzida a economia de uma nação. Hoje podemos falar em sistemas econômicos híbridos, com pilares do capitalismo misturados aos do socialismo, a própria evolução da humanidade nos leva a isso, e é muito saudável.
Este tema não sairá nunca da pauta, os próprios extremos se encarregarão de dar manutenção a polêmica. Não chamaria de dialética, apesar de no passado até tenha se enquadrado como tal. A própria dinâmica e a correção de rumo de ambos mudaram muito essa questão quando falamos de sistema econômico.
O mundo desde o início da civilização, há 10 mil anos (ou 15 mil segundo algumas teorias) vive um processo que começa na própria sobrevivência, passando a formas coletivas de cooperação, tecido social começa a se formar e a produzir. As pequenas mudanças já produziram melhorias nas condições de vida, moradia, alimentação e aumento da população.
O mundo caminhou ao longo de milhares de anos de forma frugal e simples até há 250 anos atrás quando começa a revolução no iluminismo e na consequente revolução industrial a seguir, que é marco na evolução da humanidade. Antes era tudo igual, a vida era a mesma em todos os lugares, com dificuldades e problemas. A fome foi por diversas ocasiões uma constante em catástrofes que assistimos ao longo do tempo.
Para termos uma ideia, podemos comentar alguns indicadores até na transição para a revolução industrial, o homem tinha como base a agricultura e pouco comércio, que girava devagar a máquina econômica. Com o advento das máquinas, a produção industrial provocou o êxodo rural para as cidades, onde as mulheres passaram a ter mais trabalho e as crianças que eram obrigadas a ajudar na lida diária da lavoura; puderam estudar e criar valor nas suas vidas, com lazer e melhoria da qualidade de vida. Alguns dados corroboram que o fenômeno evolutivo não foi só econômico: em 1700 a altura média do homem era 1,68 metros, hoje é 1,70. Há 300 anos quem ingeria 900 calorias diárias era superalimentado, hoje a média ocidental é de 2.400 calorias diárias. A expectativa de vida passou de 36 anos no Reino Unido para mais de 70.
Podem ter certeza que o capitalismo é o motor disso tudo, na produtividade, na inovação tecnológica e na liberdade para criar e investir, corrigir erros quando necessário, mas gerando o combustível que é sagrado nessa máquina - o lucro, que para alguns socialistas é palavrão.
Quando Engels em 1840 escreveu sobre os pobres ingleses, em muito pouco tempo a vida deles melhoraria a ponto de muitos questionarem se os livros A situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra e o Manifesto Comunista seriam escritos.
Talvez aqui tenha surgido o primeiro embate entre o socialismo x capitalismo. Com justa e legítima razão, era preciso pensar como proteger os mais “fracos” e desfavorecidos.
A revolução industrial, as máquinas e os avanços tecnológicos da época não trouxeram desemprego, pobreza e injustiça social, ao contrário, graças a esta revolução a humanidade avançou e avança a passos largos.
Ainda mais acelerada, a disrupção tecnológica atual, desde que começou nos anos 60 para valer, tem provocado alguns problemas, o mais grave talvez seja a concentração de renda.
Olhados as relações PIB x endividamento, participação do sistema financeiro x PIB desde os anos 60 para cá, podemos constatar um fenômeno grave para a maioria da população: o rentismo aumenta exponencialmente e o dinheiro que deveria estar indo para a produção, geração de emprego e renda, aparece concentrado em bancos.
Para cada US$1 de economia real se tem US$40 na ciranda financeira e a próxima fase devem ser as criptomoedas que podem aumentar ainda mais a concentração da riqueza.
A desigualdade social não tem questionamento, segundo um escritor que mostra o óbvio e virou a sensação da esquerda moderna.
- Nas seis décadas que transcorreram entre 1914 e 1973, a taxa de crescimento econômico excedeu a taxa de retorno do capital. Isso conduziu a melhora na vida dos trabalhadores. Neste período tivemos as duas grandes guerras e a crise de 1929 que destruíram grande parte do capital.
- Nos quarenta anos que se seguiram a 1973 a taxa de retorno do capital excedeu a taxa de crescimento econômico que desacelerou.
O Capital no século XXI, um livro de economia escrito por Thomas Piketty afirma que quanto maior a taxa de retorno do capital comparada ao crescimento econômico, mais desigualdades. Não há dúvida, é inquestionável. A questão é como enfrentar isso.
Piketty com base em muitas projeções e mostrando a clara distorção na distribuição de renda mundial tenta se apresentar como o salvador da pátria, descobridor da panaceia da humanidade, assim como Mark e Engels pareceram ser no seu tempo, até se provar que o socialismo e o comunismo não funcionavam e teve o fim decretado em 1989 com a implosão da URSS. Como diz a Margareth Thatcher, o socialismo dura enquanto dura o dinheiro.
Enquanto o socialismo vê que existem formas, normalmente mágicas de salvar bilhões de miseráveis, o capitalismo tem outra visão e precisa ficar claro que a sua lógica é que o cidadão consumidor tenha qualidade de vida e consumo, crescentes. Capitalismo vê o mercado como solução, o socialismo a intervenção do estado. Quando cessa o movimento e a dinâmica do mercado livre, o próprio capitalismo incorre em riscos. Quando acaba o dinheiro, o socialismo fracassa.
O capitalismo sempre precisa de revisão, a própria dinâmica do seu processo identifica as ameaças e corrige o rumo, como será no caso do rentismo e da concentração de renda que ameaçam com força o capitalismo moderno.
O socialismo vê como problema, o capitalismo como oportunidade a grande massa da população ainda em condições de melhoria de renda. A diferença entre ambos é como atacar a questão e os meios e ferramentas a serem utilizadas.
A questão central é uma só, não existem fórmulas mágicas, NÃO EXISTE igualdade entre seres humanos, nunca existiu e nunca existirá. Existe TRATAMENTO IGUALITÁRIO diante da lei, onde elas funcionam, na Democracia. Sempre que se quis "igualar" seres humanos - que são naturalmente únicos e diferentes entre si - se violentou a liberdade e a individualidade, solapando a todos pela preguiça e mediocridade, matando talentos e aptidões individuais como o empreendedorismo e a inovação.
Fato: A ordem política moderna, desde a Revolução Francesa, fez as pessoas acreditarem que a igualdade e liberdade individuais são valores fundamentais. Mas eles são contraditórios. A igualdade só pode ser assegurada se forem diminuídas as liberdades daqueles que estão em melhores condições. Simples assim.
Se quiserem relativizar a liberdade, talvez um modelo socialista possa funcionar na prática, mas a democracia e a liberdade são irmãs siameses, inegociáveis para a prosperidade e progresso humano e uma depende da outra. Qualquer sistema que prescinda das duas está fadado ao insucesso.
O capitalismo é processo, o socialismo é projeto. Processo segue uma dinâmica própria, natural, projetos estão sujeitos as falhas humanas. A história é pródiga de exemplos.
Isso não quer dizer que um sempre será justo e outro injusto, a virtude estará no meio sempre e ambos os regimes econômicos tiveram evolução acadêmica e correção de rumos. Não existe no mundo atual um sistema puro, como idealizado e pensado no passado.
A panaceia não existe, mas as distorções precisam ser administradas e corrigidas para proteger o mais fraco. As pessoas de bem são assim, não existe monopólio da virtude e bondade do socialismo, como não existe a crueldade do lucro a qualquer preço no capitalismo. Todos nós, acadêmicos, políticos, formadores de opinião, mesmo empreendedores e trabalhadores precisamos ter consciência disso e tentar mitigar o sofrimento causado pela pobreza e tentar corrigir as injustiças sociais e desigualdades que atingem os menos favorecidos.
Uma coisa eu não tenho dúvida: A justiça social verdadeira e sustentável só existirá com prosperidade e progresso. A mola mestra disso chama-se LUCRO, o verdadeiro combustível do crescimento e do investimento.
O resto é conversa fiada de aproveitadores, a maioria em proveito próprio, de um flagelo da humanidade que é a desigualdade e as injustiças sociais.

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