segunda-feira, março 14, 2016

O outra lado da moeda - 13/03/2016 e as Diretas Já - Eu vi, posso contar


O governo militar passava por problemas políticos. Figueiredo acabava de assumir e em 1979 estoura uma grave crise mundial pela alta do petróleo. Chamado segundo choque do petróleo, clique e leia
Os anos 80 foram terríveis, década perdida. Brasil com inflação e recessão em 1981 e 1983. Clique e leia sobre a crise dos anos 80. Vale lembrar que muito se assemelhava a crise atual, mas muito menor do que a de hoje.

O governo militar já em grande desgaste e com o processo de abertura em curso falava em eleições diretas, mas no dia 2 de março de 1983 um desconhecido deputado do PMDB de Mato Grosso apresenta uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional)  que restabelece as eleições diretas. Leia sobre a emenda.

A oposição aproveitando a crise econômica e a fragilidade do PDS (Partido do governo) abraça a idéia e Lança a campanha diretas já. Clique e leia.

Com apoio de governadores de estados importantes como Minas Gerais, Paraná e São Paulo lançam um enorme movimento que deveria atingir a população, já completamente insatisfeita com o governo militar.

No PDS, Aureliano Chaves que era o virtual presidente, perde sua posição por vários motivos e abre espaço para a polarização Maluf e Andreazza. Isso acabou esfacelando o PDS e abrindo espaço para a PFL (Partido da Frente Liberal), dissidência que elegeria Tancredo Neves em 1985.

Com apoio maciço da Rede Globo e depois de toda mídia em geral, o movimento ganha corpo. Depois de vários pequenos comícios populares, dia 10/04/1984 Brizola organiza um comício com um milhão de pessoas. Clique e leia sobre a campanha Diretas Já.

Aliás, deixo um recado para petistas e governistas: A mídia aderiu e agora não há como segurar mais.

Aqui meu relato de antes e de agora, eu vi:

No PDS e , sendo franco, em grande constrangimento pela falta de opção para o colégio eleitoral e grande pressão pelas diretas, assisti tudo aquilo pela TV. Tinha vontade de rebater, de criticar, mas não tinha argumentos de conter aquela multidão que pedia as eleições e fortalecia a oposição para derrotar o governo Figueredo. Alguns acham que Figueredo queria prorrogar seu mandato, mas acho que ele se perdeu pela falta de articulação política, quando em detrimento do Ministro Ibrahim Abi-Ackel, ele deixou Leitão de Abreu cuidar do tema.
Sabíamos, como chuva morro abaixo e fogo morro acima, o povo querendo votar e protestando é difícil segurar, mas o que podíamos fazer? Assistia aquilo tudo, multidão na rua pedindo eleição direta e protestando contra o governo. Afinal, economia com inflação e recessão, a multidão tem razão, não há como contestar. Mesmo com abertura o regime militar estava exaurido.
O quadro daquela época é pouco diferente do de hoje no contexto econômico, mas muito menor o estrago do que o de hoje. Na política, o PDS apático deixava a oposição assumir seu papel que elegeria Tancredo Neves.
A diferença com certeza de hoje para ontem é a qualidade das lideranças políticas que tinhamos lá, tanto do governo quanto da oposição.
A corrupção que com certeza existia no governo era como se fosse inexistente comparada a de hoje.
Eu via aquela monumental movimentação nas ruas, da mídia, com legitimidade que não podíamos negar e não tinha o que fazer a não ser tímidas defesas do governo desgastado.
Vendo hoje o mar de gente nas ruas, muitas vezes maior do que na Diretas Já, posso garantir que imagino o que os petistas e governistas enxergam e os mais lúcidos sentem.
Eu estava do outro lado naquela ocasião. Eu vi sou testemunha e posso contar.
É ruim não ter argumentos, ir contra a maioria que normalmente tem sua legitimidade de causa.
Defender o indefensável.
Não derramei lágrimas de raiva, tristeza ou decepção naquelas épocas, confesso que gostaria que tivesse sido  diferente, talvez uma opção a Maluf e Andreazza freasse a rebelião, mas não deu, a unanimidade pode ser burra, mas a maioria normalmente tem razão.
Participei de todas as manifestações desta época atual, daquele só assitia atônito e incrédulo na reversão nossa. 
Tinha partido e militava. Hoje não tenho partido político e não defendo nomes, sou um cidadão indignado como a maioria da população esclarecida.
Garanto que ontem a manifestação foi a maior de todas. O mar verde e amarelo mostra que nossa cor jamais será o vermelho do populismo irresponsável e incompetente.
As lágrimas rolaram no meu rosto, arrepiei quando vi a massa na avenida paulista. Emoção e alegria por ver que o povo se mobilizou pelo seu futuro.
Eu imagino o que estão vivendo os petistas e governistas, eu já estive do outro lado. Com o consolo, de que  defendia coisas completamente diferentes do que eles defendem e lutam.
Eu não me arrepiei naquela época e a decepção foi pequena. Não rolaram lágrimas.
Agora a alegria é imensa, a legitimidade é total e a certeza absoluta que dia 13/03/2016 está marcado na história política deste país.
Viva o Brasil e sua gente.

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