Não posso nem lembar de 2001, me dá arrepio, o racionamento foi um desastre na minha vida profissional e pessoal e de mais de 300 colaboradores que tínhamos na empresa. Hoje está tudo bem, mas as cicatrizes ficaram. Vivi isso na pele, mas para o Brasil ainda foi pior, o prejuízo foi imensurável, a energia mais cara é a que não existe. Isso trava a economia e afunda ainda mais a nossa combalida produtividade que falta há tempo no Brasil.
Entre julho de 2001 a setembro de 2002 tivemos uma das piores crises do setor elétrico no Brasil, mas muito bem administrada, deve ser considerado. Quem quiser ver mais olhe aqui.
O setor elétrico é dividido entre período seco e úmido. Seco de novembro a maio e úmido de dezembro a abril.
Normalmente os reservatórios devem ser recompostos no período úmido para aguentar o seco.
Sem entrar muito em detalhes técnicos, vamos colocar as principais características do problema de 2001.
- Faltou planejamento no setor
- Os reservatórios no sul tinham água, mas não tinha linhas de transmissão, apesar das fontes do sul não conseguirem suportar a carga do sudeste, poderia ter amenizado a crise.
- Não havia as termoelétricas
- Faltou água e foi preciso racionar o fornecimento.
Agora, em 2014, temos uma situação diferente:
- Houve planejamento, mas deu errado. A modicidade tarifária a qualquer custo, criou um preço artificial. Não se brinca com preços e a conta chega para ser paga. Veja planejamento da EPE
- Há linhas de transmissão servindo bem ao Brasil, mas muitas não entraram em operação por questões de atrasos, problemas ambientais, etc. Fará falta.
- A expansão da geração existiu, mas ainda insuficiente porque as usinas atuais trabalham a "fio d'água" e são mais suscetíveis as questões hidrológicas e meteorológicas. As eólicas que seriam a promessa, têm problemas diversos de projetos, não sustenta a carga e não é energia de base, mas sim complementar. A aposta foi superdimensionada pelas autoridades do setor.
- A base de térmicas existentes é de 21 mil MW, já estão rodando quase 18 mil MW e o CMO já está nas alturas, parece que R$ 1.600,00 por MWH, por isso a conta será salgada. Paga o tesouro ou o consumidor. Não existe almoço grátis.
- A base de térmicas não consegue segurar a carga porque não pode rodar 24/7, ou seja ainda dependemos dos reservatórios.
- A carga aumentou muito. Principalmente o consumo residencial. É verdade que a economia cresce menos do que o desejado, mas isso alivia o setor elétrico. Não poderíamos inferir que a falta de energia trava o crescimento econômico do país porque os problemas são vários, inclusive a energia.
- A carga residencial é pequena comparada com a industrial, mas no chamado horário de ponta é problema sério, principalmente quando falta combustível (água).
- Hoje temos duas pontas no sistema 19 horas e 14 horas, antes era só as 19 horas.
- Nunca houve redução de reservatórios em janeiro, este ano aconteceu. Veja matéria.
- Temos 118 mil MW de capacidade instalada, mas nesta conta é preciso considerar o fator de capacidade, ou seja não temos esta disponibilidade 100%. Nosso pico de demanda já bateu 85 mil MW por conta do calor. Isso foi causa de muitos destes "apagões" que tivemos, podem apostar.
- A situação dos reservatórios é crítica e pior do que em 2001, mas a situação hoje tem premissas diferentes, mas não menos preocupantes. As previsões de chuva para março não atendem o setor elétrico. Infelizmente. Clique e veja matéria.
- Pelo jeito, são as águas de março e a enchente das goiabas fechando o verão e aumentando nossa preocupação.
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