Não dá para ficar calado.
A história
do Brasil é marcada por tentativas de virada de mesa, revoluções, levantes,
insurreições e golpes políticos, na verdade golpes e contragolpes.
Podemos
começar falando da Inconfidência Mineira, mas muitos outros movimentos fizeram
parte de nossa história. Quero, neste artigo, me ater mais nos que envolveram
as forças armadas.
Alguns
historiadores dizem que “falta” sangue na nossa história, claro que é uma
metáfora porque comparadas a guerras civis de outros países, realmente eles têm
razão. A guerra realmente que tivemos foi a do Paraguai (1854 a 1870) com 300
mil vítimas.
Alguns
episódios, nós chamamos de guerra, mas na verdade não deveriam ser
consideradas, não obstante terem feito vítimas.
O caso que
quero abordar aqui é com relação ao Golpe de 1964, este ano fazendo 50 anos e o
envolvimento das forças armadas em outros eventos na história política
nacional.
Há muito,
mais precisamente desde 1985, quando tecnicamente é definido o fim deste
período chamado do Golpe de 1964, a história tem sofrido tentativas de
manipulação constante.
Querem
demonizar os militares, especialmente os que deram o Golpe de 1964 junto com
diversos políticos civis, diga-se de passagem.
Para falar em golpes talvez seja melhor
colocarmos algumas referências históricas.
Já no
império houve um chamado Golpe da Maioridade. D. Pedro II menor imperador e o
Brasil enfrentando diversas destas “guerras” (na verdade levantes e tentativas)
dos
farrapos, sabinada, cabanagem, revolta dos malês e balaiada.
Os políticos dominavam o regime monárquico e o Partido Liberal da época (1840)
com o Golpe da Maioridade tirou poder da Regência Una e do Partido conservador
que dominava o cenário. Os militares apoiaram o golpe que na essência foi feito
dentro da legalidade com a aprovação pelo senado da maioridade do jovem Pedro
II que veio a ser um dos grandes homens públicos brasileiros.
Idas e
vindas, problemas estruturais e conjunturais, D. Pedro II vai levando a gestão
do país juntamente com a classe política. De acordo com a constituição de 1824
o governo brasileiro era uma monarquia constitucional e significava que o governo era exercido pelo presidente do
conselho de ministros, indicado pelo parlamento cujos membros eram eleitos
democraticamente. O Imperador tinha poderes ilimitados para intervir, mas não
governava na prática.
Com
problemas econômicos e perda de apoio dos conservadores pelo fim da escravatura
principalmente, começa o levante para derrubar a monarquia. Visconde de Ouro
Preto, um liberal, propõem ainda mais mudanças que desagradam a elite política.
O golpe foi
iniciado e apoiado por civis e depois com a adesão dos militares onde se
destacam Benjamim Constant, Marechal Floriano Peixoto, Marechal Hermes da
Fonseca e outros mais.
Em 15 de
novembro é proclamada a República, episódio que muitos atribuem a leniência e
inapetência voluntária de D. Pedro II que não quis reagir e enxergava a
república o melhor regime para o Brasil.
Os
militares foram atores deste golpe, mas nunca seus protagonistas principais, já
que os partidos e os políticos foram peças determinantes para o êxito da
iniciativa.
A constituição brasileira de 1891, promulgada
em 24 de fevereiro de 1891 foi a primeira constituição
republicana e a segunda do Brasil (a primeira foi em 1824). Inaugurava-se o
período chamado República Velha. Esta constituição vigorou durante
toda a República Velha e sofreu apenas uma alteração em 1923. O
Brasil começava a engatinhar como nação livre e democrática.
Washington
Luiz era presidente eleito e apoiava Julio Prestes candidato paulista as
eleições de 1930. Apoiado por 17
estados, menos Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba, este venceria as
eleições de março de 1930, mas os
políticos mineiros e gaúchos se rebelam e impedem a posse do presidente
eleito, dando posse a Getúlio Vargas, derrotado, mas empossado pelo golpe que
deu fim a República Velha, sendo chamado de “Governo Provisório”.
Este golpe foi dado pelos políticos e contaram com o apoio do militares, sem
eles não teria sido bem sucedido. Os militares oriundos do Tenentismo, com
movimentos e rebeliões: Revolta dos 18 do Forte de Copacabana em 1922, a Revolução
de 1924 a Comuna
de Manaus de 1924 e a Coluna
Prestes apoiaram
a classe política neste momento, mas nunca foram os protagonistas de
verdade.
Getúlio
Vargas entra na história política do Brasil para marcar sua dicotomia de
ditador e democrata dependendo do período como veremos a frente. Com discurso
liberal e renovador, todos os movimentos tiveram viés de mudanças e combates a
velhas práticas oligárquicas e retrogradas. Todos tiveram sua essência baseada
em princípios legítimos e oportunos para o momento. A motivação dos golpes sempre terá sua
legitimidade para parte da sociedade.
Em 1932, os
paulistas tentam derrubar Vargas na Revolução Constitucionalistas de 1932, “guerra” travada na Mantiqueira onde as forças
legalistas derrotaram os paulistas, mas ficou um alerta e nova constituição
viria em 1934. Juscelino Kubitschek ,o
JK, serviu como médico nas tropas
vitoriosas e desponta para a política, e também seria protagonista da série “golpista”
do Brasil.
Vargas com
sua índole de caudilho e articulador hábil consegue uma manobra para postergar
a eleição que deveria acontecer em 1934, jogando-a para 1938. A constituição de
1934 inicia nova ordem no Brasil que deveria trazer a democracia e liberdade
usurpada na revolução de 1930.
Um fenômeno
mundial (olha a semente da globalização aqui germinando) nos conturbados anos 30, pós-crise de 1929 e
ascensão de populistas e regimes nacionalistas no mundo, repercute no Brasil.
Com a crise econômica do pós crise mundial de 1929, comunistas, fascistas e
nazistas criam suas asas e com toda legitimidade de seus argumentos naquele
momento causam temor nos regimes que queriam a liberdade e democracia acima de
tudo.
Com a
ameaça comunista rodando o mundo, militares e civis tentam tomar o poder em
1935 com a chamada Revolta Vermelha ou Intentona Comunista. Luiz Carlos
Prestes, militar, apoiado por políticos civis tentam um Golpe frustrado pelos
militares legalistas. A esquerda mostrava suas garras e criava pretexto para Vargas
retroceder na constituição de 1934.
Sempre
apoiado pelos militares que depois seriam seus algozes, em 1937 , instalou o
chamado e temido “Estado Novo”um novo Golpe com a
Constituição de 1937, chamada de Polaca, para a manutenção no poder até 1945,
quando novo golpe o depõe.
Vargas
governa com mão de ferro, mas é deposto em
1945, por militares que tinham o objetivo de restaurar as liberdades
democráticas.
Este Golpe
foi completamente atípico. Vargas foi deposto, não teve seus direitos políticos
cassados, não havia a figura do
vice-presidente e José Linhares, presidente do STF assumiu até 1946 onde
ocorreram eleições com a vitória do General Dutra. Vargas é eleito, senador e
deputado por diversos estados (na época era possível), mas fica como senador pelo
Rio Grande do Sul. Dutra governa até 1950 e com mais uma característica típica
da história “tupiniquim”, Vargas é eleito
democraticamente presidente da república. O caudilho agora com a face
democrata.
Crises
políticas, guerra fria, populismos, corrupção, oposição aguerrida e competente, tudo isso
culmina com a morte de Vargas em agosto de 1954, assume Café Filho seu
vice-presidente.
Eleições presidenciais são mantidas, em outubro de 1955 é eleito JK, governador de Minas Gerais e
apoiado pelos getulistas venceu em 15 estados, mas com votação de 35,68% que
gerou instintos golpistas da oposição udenista por declarar que JK não havia
atingido a maioria, aliás, esta eleição é marcada pelo equilíbrio entre os
candidatos, Adhemar de Barros (27%) e Juarez Távora (30,27%).
Café Filho
com problemas cardíacos estava afastado do poder, quem exercia era Carlos Luz,
pessedista mineiro, mas contrário a JK e ligado aos udenistas. Reza a lenda que
neste momento já existiam duas conspirações, ambos com militares envolvidos.
Uma para dar posse a JK, outra para não dar. A aguerrida UDN com Carlos
Lacerda, Afonso Arinos, Bilac Pinto , a famosa banda de música, conspira, tenta
anular a eleição por meios legislativos, perde a parada, vai aos meios
militares, divididos entre os que queria a manutenção da ordem e não.
Segue
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