Quando se toma um caminho econômico é sempre em detrimento de outro. A percepção de quem é autoridade econômica precisa fazer diagnósticos e olhar na frente, se antecipar a algumas coisas e eventualmente correr riscos.
O Brasil viveu crises e crises econômicas, medidas populistas e eleitoreiras do governo Sarney na época do plano Cruzado, aliás o Brasil teve muitos planos deste os anos 80, quase todos fracassaram, menos um, o Plano Real. FHC ministro da fazenda de Itamar Franco instituiu junto com economistas feras, Edmar Bacha, Pérsio Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan, Winston Fritsch e Francisco Pinto, entre alguns outros. Se quiser ver mais- Plano Real
A base para a estabilização da moeda, essência do plano, tinha como pilares:
- Superavit primário - Receitas menos despesas, excluídos os juros da dívida. Definido em 3% do PIB
- Câmbio flutuante- sem intervenções do BC
- Metas de Inflação - definidas de acordo com os diagnósticos e cenários.
Tudo isso exigia disciplina e rigor fiscal, ou seja, gastar menos do que se arrecada.
O Plano deu certo quando a inércia inflacionária foi quebrada com a URV e finalmente tínhamos um plano que estava dando certo.
Sem entrar em detalhes, o governo FHC que veio da sequência de Itamar, pegou crises sérias, mas sem comprometer totalmente a essência do Plano Real.
Em 2001 tivemos a crise da energia, o apagão elétrico custou caríssimo ao Brasil e custou a eleição de Serra em 2002. O maior erro de FHC foi ter desprezado o planejamento do setor elétrico e acabou no terrível apagão.
Lula ganha a eleição e por algum tempo, talvez pela competência, conhecimento e pragmatismo de Henrique Meirelles no BC, manteve as bases e pilares do Plano Real.
Isso duraria pouco e uma mudança de rumo começa, o incentivo do consumo e crédito, que tem seu lado bom, mas é insustentável sem outras medidas paralelas, a redução do gasto público.
Lula privilegiou estas medidas de aumento de consumo que geraram endividamento e expansão do consumo das famílias, mas precisava incentivar os investimentos e cortar gastos, fizeram exatamente o contrário.
No final do governo Lula, o viés dele foi totalmente voltado para a eleição de seu sucessor que acabou sendo sucessora. Para isso ele mexeu em coisas importantes da base do plano e algumas bombas começam a ser plantadas.
Dilma começa bem, austera, tentando organizar os fundamentos macroeconômicos, mas logo se perde.
Não consegue alavancar o investimento, o PAC poderia ser uma forma, mas a realização é muito aquém da necessidade e nunca bate o realizado e planejado (talvez nem 30% foram atingidos). A infraestrutura sofre, gargalos sérios começam a aparecer. Veio o Pibinho de 0,9% em 2012, com 2,7% em 2011 (menos mal, mas aquém do que precisamos).
E agora, o que acontece
- EUA bombando na economia e nosso cambio sofre ameaça.
- Inflação forçando a barra de alta, mesmo com desoneração e redução de energia.
- Superavit primário cheio de "mágicas" contábeis e fora do prumo.
- Precisam ganhar a eleição ano que vem
- Ministro Mantega fala que não mexerá no IOF sobre dinheiro de fora e no dia seguinte mexem
- Dizem que farão rigor fiscal e soltam programa Minha Casa Melhor com subsídio de governo
- Presidente fala que não sobe juros e o BC precisa mexer pela ameaça inflacionária.
- Viés político total quebrando a confiança do investidor e do mercado
2013 indo embora e eleição ano que vem, e agora José?
Vários interlocutores e muita dicotomia, medidas paradoxianas , algumas "stop and go".
Saída? A questão é complexa, quando mexemos em um lugar, outra peça se desloca. Humildemente não consigo opinar, mas uma que é clamor do mercado e há muito é calcanhar de aquiles do governo é gastos públicos em expansão.
A melhor medida agora seria cortar gastos públicos, mas como fazer isso em ano pré eleitoral?
Outra é restabelecer a confiança do mercado, mas também como se não existe interlocutor confiável?
Outra é restabelecer a confiança do mercado, mas também como se não existe interlocutor confiável?
Complicada a situação.