Artigo do Gustavo Franco no Estadão: Clique e leia PRECISAMOS FALAR SOBRE A HERANÇA.
Quero deixar aqui registrado com alguns detalhes que grifo:
Muito mais sério do que a corrupção, a incompetência e irresponsabilidade causaram um estrago que roubou parte de nosso futuro.
Um sumário:
O
superlativo número de R$ 170 bilhões para o déficit primário no exercício de
2016, conforme aprovado na semana que passou, foi chocante e surpreendente para
muitos. Mas é só um pedaço da história, e pequeno.
Vale
lembrar que durante os dez anos anteriores a 2008 o resultado primário médio
foi um superávit maior que 3% do PIB.
E
também para que se tenha muito claro que foi Dilma Rousseff quem transformou um
resultado positivo médio da ordem de R$ 190 bilhões (3% do PIB de 2016) em um
negativo de R$ 170 bilhões.
A
deterioração fiscal comandada por Dilma Rousseff foi, portanto, de R$ 360
bilhões, sendo este o tamanho do esforço fiscal que teria de ser feito hoje
para colocar o país de volta na situação onde estava no período 1998-2007,
quando houve crescimento, austeridade (ao menos quando medida por superávits
primários) e melhoria na distribuição de renda.
São
R$ 360 bilhões morro acima, só para arrumar o resultado primário. Se colocarmos
na conta os juros, os números se tornam ainda mais perturbadores.
No
ano de 2015, o Brasil foi o país cujo Tesouro Nacional mais pagou juros no
mundo: 8,5% do PIB, contra 4,62% na Índia, 4,11% em Portugal, 4,02% na Itália e
3,61% na Grécia.
Em
moeda corrente, estamos falando de R$ 502 bilhões em juros em 2015, quando o
déficit primário (o resultado sem contar juros) foi de 1,88% do PIB,
equivalente a R$ 111 bilhões. Assim, neste ano, o déficit total do setor
público foi de 10,38% do PIB ou de R$ 613 bilhões.
A
mesma lei que recém alterou a LDO estimou o déficit nominal para 2016 em 8,96%
do PIB, ou seja, R$ 579 bilhões, dentro dos quais estão os R$ 170 bilhões de
que falamos logo acima. Estima-se que a conta de juros neste ano fique parecida
com a do ano passado. A ver.
Tudo
considerado, com este déficit nominal, a projeção para a dívida pública bruta
ao final de 2016 é de 73,4% do PIB, uma alucinação.
E
não pense que foi só isso.
Mas,
antes de pensar no conserto, que se registre a façanha: poucos anos depois do
apogeu representado pela descoberta do pré-sal e do aumento de capital em Nova
York em 2010, quando a companhia captou US$ 70 bilhões na maior operação da
espécie jamais registrada neste planeta, Dilma Rousseff conseguiu colocar a
Petrobras a meio centímetro da recuperação judicial. Que portento em matéria de
incompetência administrativa, imprevidência estratégica e desonestidade mesmo,
esta última, inclusive, reconhecida oficialmente no balanço.
E
não por acidente as quedas no PIB do biênio 2015 e 2016, que se espera que
atinjam 3,8% e 3,8%, ultrapassam o que se observou nos anos da Grande
Depressão, 1930-31, quando as quedas foram de 2,1% e 3,3%.
É
fundamental que se tenha clara a exata natureza e extensão da herança, para que
as dores inerentes ao árduo trabalho de reconstrução financeira e fiscal do
crédito público sejam associadas a quem produziu a doença, e não ao médico.
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