Assuntos que me interessam: Política, Meio Ambiente, Economia, Tecnologia, Internet e um pouco de filosofia.
quarta-feira, junho 30, 2010
O péssimo serviços das operadoras de Celular, a Anatel precisa ver o que está ocorrendo!
O vice de Serra é retrato dos problemas da candidatura
- Ela passou Serra.
- Ela é menos conhecida do que Serra
- Serra perdeu estes pontos no Sudeste e parece que só lidera no Paraná agora
- Lula não entrou para valer e a campanha não começou.
- A rejeição de Serra é maior do que a dela
- Ela ganha na espontânea
- O discurso de Serra tem uma dicotomia enorme, ao mesmo tempo que se apresenta para continuar, ele precisa atacar o governo atual e quando Lula tem 80% de aprovação, é complicado.
domingo, junho 27, 2010
A alma de Minas e a morte
A alma de Minas
Não se trata de bairrismo, alguns mineiros são privilegiados com a alma de Minas Gerais. Poucos sabem o real significado da Alma de Minas.
Os designados com a alma de Minas estão nos segmentos da política e da cultura, das artes, seria difícil nominar todos, nos esportes podemos destacar alguns também.
Existem centenas de mineiros que se ressaltam na mídia, perante seus pares, seus setores específicos, mas nem todos necessariamente têm a alma de Minas.
A alma de Minas tem o altruísmo, a abnegação e a vocação pública como pilares, outros valores, todos positivos estão impregnados também na Alma de Minas.
Ouvi o ex-governador Aécio falar no velório do meu pai: Murilo tinha a alma de Minas.
Ele está certo, sou testemunha e posso contar.
Murilo Badaró é um dos escolhidos para ter a alma de Minas, levou parte dela junto consigo, outros tantos ainda a levarão, mas infelizmente estão diminuindo os homens dignos desta essência.
Conversávamos muito ultimamente, aproveitei “meu velho” até o último instante. Ele me contou muitas histórias, debatíamos sobre a década de 50 e 60, sobre Vargas, a revolução de 64, os anos 70 e 80, enfim, tínhamos muitas conversas que uniam a minha curiosidade com a sua sabedoria.
Ele me contou a sua decepção e desconforto quando a linha dura, que implantou a ditadura, desvirtuou os ideais da legítima revolução de
Nossas conversas eram muitas. Quando, com muito prazer de minha parte, levava um vinho para degustarmos no domingo, as histórias surgiam. Murilo Badaró me contava de sua atuação como oposição a Magalhães Pinto, então governador nos idos de 60.
-Murilo, a política precisa de uma oposição combatente, legítima. Estamos perdendo isso. Os interesses, muitas vezes econômicos se sobressaem sobre a essência política do embate e do confronto, educado e necessário. Exclamava ele na sua serenidade.
Nunca vi meu pai alterar seu tom de voz, nem em momentos que fizessem qualquer pessoa normal mudar seu comportamento. Isso é parte da alma de Minas.
Ele me contou o episódio da convenção que disputou no PSD, então com 26 anos, para ser candidato a Vice Governador na chapa de Israel Pinheiro perdendo por muito pouco. Derrotado pelos caciques do partido, muitas mágoas para frente podem ter selado seu destino. Pela alma de Minas, ele sempre relevou tudo.
Ele nunca teve inimigos políticos, nem adversários, no estrito senso da palavra. A Alma de Minas dá a estes escolhidos esta prerrogativa, eles conseguem conversar com adversários, conviver, conciliar, negociar, enfim, esta é a essência da política mineira para os que têm a alma de Minas. Nunca testemunhei uma expressão de ódio, desamor ou sentimento de vingança no meu pai, por mais que tivesse motivos ou razão.
Isso é parte da Alma de Minas.
-Murilo, na política muitas vezes, a ousadia é a estratégia, perder ou ganhar é parte deu uma eleição, disse-me quando contou episódios de sua vida em que disputou eleição, mesmo sabendo da derrota iminente e da luta inglória. Nas suas candidaturas a bandeira sempre foi a vocação pública, o sentido de servir a Minas Gerais, nada, além disso.
A coragem é parte da Alma de Minas, derrotas podem ser vitórias perante aos preferidos pelo destino para possuírem esta alma de Minas Gerais. Os escolhidos para ter a alma de Minas relativizam a vitória, ela é parte do contexto político, ou não. A luta e a estratégia podem ser mais importantes do que a vitória ou a derrota. Isso muitas vezes faz a diferença do político mineiro.
Contou-me seu voto contra a cassação de Márcio Moreira Alves e o discurso de protesto contra a anulação de JK, estes quase lhe custaram o mandato, mas ele triunfou perante as suas convicções. Ele assumiu os riscos, conseguiu conciliar e contemporizar evitando o pior, mas nunca transigiu dos seus ideais de liberdade e democracia.
Murilo Badaró estava incomodado com a destruição das instituições, com o excesso do dinheiro na política e a deterioração da classe política. Ele como testemunha ocular e presencial de vários episódios deste país, deve ser levado em consideração, os fatos falam mais do que suas ilações.
Meu pai teve a morte dos justos, ele morreu em 5 minutos. Todos têm defeitos e qualidades, mas os que representam a alma de Minas têm seus desígnios.
Não me conformo com a morte dele. A morte não pode ser discutida, nem entendida, ela só pode ser aceita, nada mais. Ele poderia ficar mais alguns anos com a gente, fazendo o bem, ajudando conhecidos e desconhecidos, como sempre fez. A alma de Minas faz as pessoas não pensarem em si, mas nos outros, ele sempre foi assim.
A morte e o certo dito destino têm seus mistérios, assim como a vida, mas isso não pode ser motivo de resignação.
Minhas lágrimas podem estar secando, minha dor se arrefecendo, mas a saudade tomará conta destes espaços e será eterna, pública e reconhecida por alguns que tiveram este privilégio de ter convivido com ele.
Não estou lamentando, nem me confortando aqui, quero que muitos saibam que perdemos mais um personagem com a alma de Minas, e como ele mesmo me disse, a classe política está se degenerando, infelizmente. Espero que ele, na sua sabedoria, estivesse errado, mas os fatos nos mostram isso.
Não se trata de troca de gerações, alguns valores são imutáveis, inegociáveis. A alma de Minas não possui genéricos.
O exemplo dele pode ser resumido pela alma de Minas, para quem o conheceu é fácil entender o que escrevo aqui com a dor da perda, quem não o conheceu, ainda ouvirá seu nome ecoando nas montanhas das alterosas, nas homenagens que ainda virão, nos livros que escreveu ou nas histórias de Minas e do Brasil.
Nunca será difícil um filho escrever ou falar sobre um pai em momento como este. No meu caso pode ser mais complicado, falar sobre o político, o homem da cultura, o pai, o “detentor” da alma de Minas?
Não importa, afinal, a dor é pessoal e intransferível, que fiquem os seus bons exemplos. São vários!
sexta-feira, junho 18, 2010
Ainda Murilo Badaró...a saudade será eterna!
Quando os pássaros adormecem
Por Petrônio Souza Gonçalves
Os grandes são sempre maiores. De perto, agigantam-se, aprumam vôos, fazem sombra sem nunca nos privar de sua luz. Assim vi, ouvi e convivi com o presidente da Academia Mineira de Letras, assim conheci o ser humano Murilo Badaró, ex-ministro e ex-senador da República.
Sua vida foi um palco iluminado, ora pela política, ora pelas apresentações como cantor de ópera, quando usava o pseudônimo de Ricardo Villas e arrebatava multidões na Belo Horizonte dos anos 50. Seu talento era tanto, que um parceiro de palco me confidenciou: “Por maior político que o Murilo tenha sido, ele nunca iria superar o barítono que era!”
Seu grande projeto era comemorar os 80 anos, em 2011, com uma grande festa, quando distribuiria um cd com suas óperas resgatadas. Ao imaginar o evento, finalizava: “Será que eu vou conseguir chegar até lá?”
Fez da voz a sua espada, da palavra o seu caminho e duelou com o mundo à sua volta. Jovem deputado estadual, depois de se aconselhar com o pai, tomou a tribuna da Assembléia Legislativa de Minas Gerais para protestar contra a cassação de Juscelino. Discurso este que os militares nunca perdoaram. Depois, como deputado federal, votou contra a cassação de Márcio Moreira Alves, o que quase lhe fez perder o mandato. Ao saber que quem o salvou das garras militares foi o adversário e vice-presidente Pedro Aleixo, foi agradecê-lo, quando ouviu de Aleixo: “Que isso, essa reunião foi secreta, portanto, ela nunca aconteceu. Se ela não aconteceu, não tem nada que agradecer meu filho”.
Muito poderia dizer do homem público, dos vários cargos e mandatos, do escritor de várias obras e premiadas biografias, do acadêmico respeitado que tinha como chave da porta para as realizações dos nossos sonhos e projetos junto à Academia Mineira de Letras apenas um telefonema inesperado. Quando tudo parecia esgotado, ele se lembrava de alguém, ligava e tudo renascia. Era um parceiro perfeito...
Eu, seu funcionário, sempre me convidava para acompanhá-lo nas viagens, o que era minha obrigação. No trajeto, contava histórias, rememorava fatos, dividia confidências e inconfidências, viajava no tempo tendo ao lado um atento e sereno passageiro.
Trazia no peito a chaga aberta que nunca cicatrizou, por ter sido impedido a se candidatar ao governo de Minas pela Arena, quando estava em sua melhor forma e a vitória lhe parecia certeira. Havia visitado todas as cidades mineiras da época, em todas as regiões. Ao rememorar a campanha, me contava: “Estava em casa à noite quando recebi um telefonema de uma cidade que ainda não havia ido. Respondi: Pode ajuntar o pessoal que amanhã eu estarei aí na hora do almoço”. Esteve! Era verdade o que o seu slogan dizia: “Não importa em qual cidade de Minas que você nasceu, Murilo Badaró já esteve lá!”. Era o trenzinho das melhores tradições mineiras varrendo o interior de sua gente. Essa mágoa o consumiu até o último minuto de sua vida.
Me ensinou, em política, a diferença entre o adversário e o desleal. Me fez ler a história pelas entrelinhas. Os discursos, pelas interrogações. As versões, pelas pausas.
Fui com ele visitar antigos correligionários no Sul de Minas e pude testemunhar a comovida força da amizade que os unia, além do tempo e espaço, coisas que não existem mais. Ao final, indagou: “Como eu poderia ser político nos dias de hoje?”. Como que vencido pela imperiosa realidade, constatei: “O senhor não sabe o bem que fez a eles com essa visita”.
Certa feita, fomos a Juiz de Fora. Como era de seu feitio, chegamos antes, muito cedo. Juiz de Fora amanhecia. Sentamos em um banco da praça para ler os jornais do dia. Do outro lado da rua, dois mendigos acordavam na praça e começaram a discutir. Um deles veio até nós e perguntou ao Murilo: “O senhor é adevolgado ou juiz?” Murilo respondeu: “Sou padre. Este aqui é meu sacristão”. “Uai, então me dê uma bençãozinha aqui seu padre!” Murilo fez o sinal da cruz no ar e falou: “Vá em paz e que Deus te acompanhe.” O mendigo voltou para onde estava seu companheiro e falou baixinho: “Hoje estou com sorte, fui abençoado pelo padre Murilo Badaró”.
Ultimamente, estava de volta ao bom e velho combate, motivado pelo convite do ex-presidente Itamar Franco para compor a chapa de Itamar como suplente na candidatura ao Senado. E não parava de idealizar projetos. Imaginava fundar uma editora, tendo a participação de um dileto amigo. Queria dinamizar a Fundação das Academias de Letras de Minas Gerais, criada por ele em 2009, com o nome de FALEMG.
Na segunda-feira, dia 14 de junho, não foi à Academia. Às 18h7 terminamos nossa ligação aos risos. Às 19h45, foi encontrar-se com o pai e o avô, no céu, só faltou combinar com a gente. O infarto foi fulminante. Quando cheguei a sua casa, dona Lucy, sua esposa, estava abraçada a ele, como que se quisesse trazê-lo para a longa caminhada, para os palcos da vida, seu lugar natural. Ela representava todos nós, mas ele já não estava mais aqui.
Murilo Badaró levou com ele um pedaço de nós, daqueles sentimentos nobres que todos os dias nutria em cada um que estava a sua volta, indistintamente. O sentimento da boa convivência, do respeito às opiniões, do amor à literatura, do livre pensar, uma forma leve de ver o mundo e encarar a vida. A convivência com ele era uma renovada alegria, um privilégio.
Um dia, quando já tarde da noite íamos embora, na garagem cheia de carros e passarinhos, Carmen, sua secretaria, acendeu a luz para abrir a porta do carro. Ele protestou: “que isso Carmen, assim você vai acordar os passarinho”, saiu do carro e apagou a luz.
Essa é a imagem que trago dele, um homem que vôo alto mas nunca esqueceu dos passarinhos aprisionados, dos passarinhos esquecidos que não descobriram a liberdade do ar, os passarinhos do canto limitado, do vôo retido. Na verdade, acho que ele era, no mais fundo, um deles também.
Petrônio Souza Gonçalves - é jornalista e escritor.
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