A falácia do discurso que a pobreza de muitos é criada pela riqueza de alguns.
A preocupação com relação à pobreza costuma ser confundida com a preocupação sobre diferença de renda, como se a riqueza dos ricos originasse a pobreza dos pobres e fosse razão da sua existência. Esta é uma das várias formas da falácia de soma zero.
Na verdade, os avanços tecnológicos, da própria economia e de outras ciências foram sempre combatendo a pobreza e sempre buscando a melhoria de qualidade de vida do ser humano.
O gráfico acima mostra que a população mundial era de 1,08 bilhão de habitantes em 1820, com 1,02 bilhão vivendo na extrema pobreza (representando 94% da população total) e 60,6 milhões vivendo acima da linha da extrema pobreza (representando 6% do total). Em 1970, a população mundial passou para 3,69 bilhões de habitantes, sendo 2,2 bilhões na extrema pobreza (60,2%) e 1,47 bilhão de pessoas acima da linha da extrema pobreza (39,8%). Mas a partir de 1970 a população total cresceu muito, enquanto a parcela populacional vivendo na extrema pobreza caiu rapidamente.
Em 2015, a população mundial chegou a 7,35 bilhões de habitantes, com 6,6 bilhões (89,8%) acima da linha da extrema pobreza e 705,6 milhões de pessoas (10,2%) vivendo na extrema pobreza. Em resumo, a extrema pobreza caiu de 94% do total populacional, em 1820, para 10% em 2015. Fato extraordinário.
Vale destacar que os indicadores demográficos melhoram muito desde então, redução de mortalidade infantil, expectativa de vida e de forma geral a qualidade de vida da população. A pobreza não acabou e talvez nunca acabe, mas foi sendo reduzida e tem que ser sempre combatida, até pela própria sobrevivência do mercado.
Isso se deu pelo avanço tecnológico e das ciências em geral, principalmente a economia.
A pobreza e a injustiça social sempre existiram. A desigualdade e classes privilegiadas datam de 10 mil anos atrás quando o homem começa a se organizar em comunidades, deixa de ser nômade, reforça sua condição de sedentário (fixado a terra na primeira civilização ás margens dos Rios Tigres e Eufrastes).
Os primeiros pensadores da economia (Adam Smith, David Ricardo e Stuart Mill) eram filósofos e alertaram para as injustiças sociais que o livre mercado traria.
O socialismo surge na Revolução Francesa, palco da revolta contra o absolutismo e a miséria herdade da Era Feudal, e segue se intensificando na Revolução Industrial pelos abusos que o capitalismo selvagem da época promovia. Era inegável que correção de rumos e ajustes eram precisos.
Os socialistas utópicos viraram os socialistas científicos e depois as fabianos e a social democracia, mas não se conhece que alguns deles representou a panaceia para solução das desigualdades e injustiças sociais.
O capitalismo não é a antítese do socialismo, eles podem e devem conviver em um regime político com liberdade e democracia, isso sim funciona.
Demonizar o capitalismo já mostra a falácia que estes dados aqui mostram, e dizer que não precisamos olhar para as graves injustiças sociais que existem no mundo é tapar o sol com a peneira.
O capitalismo tem problemas, mas ele se regenera, ele é um processo, tem a resiliência para superar a inclinação negativa de seus ciclos. Hoje nos deparamos com a disrupção tecnológica, rápida e implacável que mudará muitos conceitos, sempre fazendo o bem, mas podendo fazer o mal, pelo menos para menos favorecidos.
Nosso olhar tem que ser na direção de corrigir os rumos. Não acreditar que a panaceia ainda terá sua vez. O Socialismo ainda não existiu de verdade é outro discurso que demanda atenção. A democracia tem sido usada por quadrilhas, verdadeiras camarilhas, em vários cantos do planeta. Isso é muito pior do que as desigualdades que ainda existem e precisam ser combatidas.
Murilo Prado Badaró – Economista e ambientalista
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