sexta-feira, janeiro 11, 2019

Futurologia? 1984, Congresso Nacional de Bancos- Roberto Campos



Revendo aqui algumas coisas na minha biblioteca, encontro esta pérola. Uma palestra de Roberto Campos de 1984. A clareza de suas idéias, algumas quase previsões que ele faz há 35 anos atrás é de surpreender. Vai aqui um resumo.
Antes, quem quiser ver algumas frases e tiradas geniais dele; clique e leia- Roberto Campos 100 anos

Vale lembrar que o Brasil passava por grave crise, com inflação alta, saindo de uma recessão  séria,  problemas cambiais sérios pós crise do Petróleo de 1979 com a Guerra Irã x Iraque.

Um resumo de pontos da palestra com alguns comentários meus:

  1. Escola do radicalismo humanista , que ao invés de reformar a economia, espera reformar o homem, uma versão mais sofisticada da utopia marxista, acusando o capitalismo de subserviência á tirania do consumidor, em descaso da satisfação das necessidades humanas. Comentário: Aqui ele já previa uma corrente que tomou conta do mundo e do Brasil nos anos 90 e dura até hoje, digamos que é o tal "politicamente correto" que disfarça bandeiras esquerdistas e abraça bandeiras ambientalistas e defesa de minorias
  2. Ele fala da inflação inercial causada pelos choques do petróleo de 1974 a 1979, explosão dos juros internacionais. Comentário: Um diagnóstico perfeito que naquele momento não parecia tão claro assim.
  3. Ele define as explicações para a inflação que beirava 200% a.a. A rigidez dos preços criada pela indexação generalizada (ele foi o criador da correção monetária que teve sua serventia em alguns momentos), conflito entre ajustes internos e externos (estávamos naquele momento sob as duras regras de austeridade do FMI) e o efeito aceleracionista das expectativas( sempre o mercado se antecipando e as expectativas podendo ser positivas ou negativas). Comentário: Os parêntesis são meus, mas reitero a clareza do diagnóstico daquele momento.
  4. Soluções equivocadas na visão dele: A desindexação, o congelamento de preços e a nova unidade monetária indexada. Comentário: O que veio a seguir com o Plano Cruzado e o governo Sarney reforça s erros mencionados e leva a inflação  no final do governo Sarney em 1989 a 1972,92% a.a. em dezembro. Clique e leia.
  5. Ele propõem soluções, uma delas cita a criação de uma nova moeda, indexada e cita que está sendo trabalhada por André Lara Resende e Mário Simonsen e elogia alguns aspectos como a correção da inflação inercial. Comentário: Aqui pude descobrir que o Plano Real, que salvou nossa moeda e nossa economia, estava iniciando sua gestação, e não foi propriamente no governo Itamar, que por ter dado certo e ter sido o melhor plano econômico da história, tem vários "pais" e criadores. 
  6. Segundo ele, o problema brasileiro não é só a contenção do gasto público agregado, mas também seu direcionamento, o Estado deve ser menos um investidor industrial e mais investidor social. A simples melhoria da eficiência alocativa, traria rendimentos, quer em termos de desinflação, quer no tocante ao nível de emprego. Comentário: Ele não chegou a ver o estrago petista de explosão dos gastos públicos, com pedaladas e outras "coisitas" mais mas a falta do capital social básico (educação, segurança, saúde e infraestrutura) é o flagelo da nossa população hoje. 
  7. Cita o programa de Regan, "deregulation" chamado por ele de neologismo e elogia os resultados mencionando que a burocracia americana é mais eficiente do que a nossa e aqui sim este programa teria melhor resultado. Comentário. Regan fez muitas coisas que tiraram os EUA dos problemas inflacionários (na época de 11% a.a.para lá muito) e falta de crescimento. Reagan desonerou a economia com renúncia de 3% do PIB, deixando na veia do setor produtivo este dinheiro. A expansão global que veio nos anos 90, com a famosa bolha ponto com e chamada de exuberância irracional por Allan Greenspan, durou ainda nos anos 2000 até a crise de 2008. O mundo agradeceu e  a inflexão positiva do ciclo se deu muito graças a famosa "Reaganomics". Trump tenta seguir um modelo parecido e parece que vem dando certo, pelo menos no crescimento (EUA cresceu 4,0% em 2018).
  8. E os conselhos dele para combate a inflação, corroborando Octávio Gouveia de Bulhões e Simonsen, que são: 1- A necessidade de uma visão globalizada e administração coordenada dos quatros orçamentos, fiscal, monetário, previdenciário e das estatais. 2- Reestruturação do sistema financeiro visando um desquite amigável entre o Banco Central e o Banco do Brasil devotado exclusivamente ao controle monetário e operando este no mercado competitivo, além de tarefas especificas e delegas.3- Continuidade e intensificação do esforço de contenção monetária, abrangendo a base monetária e a quase moeda, tarefa que, segundo Maquiavel, deveria ser gesto inicial e não terminal do governo. Comentário: Os problemas que ele ataca aqui só foram agravados nos governos seguintes, orçamentos estourados, privilégios gerados na CF de 88, o agravamento da crise previdenciária por desajustes atuariais (pessoas vivendo mais, nascendo menos e não repondo o estoque que dá o equilíbrio), fora as pedalas fiscais que se iniciaram. A restruturação do sistema financeiro virou uma festa na floresta para o setor bancário. Pós governo Sarney os bancos viraram um grande monopólio com a ajuda da CEF e BB e sugaram a economia brasileira, juros abusivos, spreads criminosos e uma verdadeira praga contra o crescimento e prosperidade. No caso aqui que ele cita BB e BC, é porque na época o BB tinha papel confuso de ator na política monetária, isso foi corrigido depois. A contenção monetária foi a seguir feita por Collor com o tal Plano Collor que "sequestrou" o dinheiro no mercado. Hoje, segundo consta, foi feito de forma amadora e inconsequente, a inflação abaixou, mas depois explodiu novamente. 
  9. Choque institucional é a solução apontada por ele com as seguintes pérolas: As empresas públicas não são públicas e sim da "nomenklatura" (se ele visse o que veio depois). Para de estatizar, caminho de desestatização. A delegação de parcela previdenciária ao setor  privado para conter o déficit.Comentário: Collor e FHC fizeram muitas privatizações, FHC mais, acertadas na maioria. O Brasil ainda é um dos países com mais estatais do mundo: A Suíça tem 4 estatais, Austrália e Japão 8, Áustria 10, Bélgica 12, EUA e Reino Unido 16, Dinamarca 21, Chile 25 e o Brasil 418. O PT criou estatais e no final acabou privatizando algumas concessões. Roberto Campos não chegou a ver a gestão petista, morreu em 2001, mas uma frase dele, visionária, resume tudo:  “O PT é um partido de trabalhadores que não trabalham, estudantes que não estudam e intelectuais que não pensam”. Ele sempre esteve certo. Sempre foi um gênio.

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