quinta-feira, março 06, 2014

Existe ainda a ameaça de racionamento para 2014?




Não posso nem lembar de 2001, me dá arrepio, o racionamento foi um desastre na minha vida profissional e pessoal e de mais de 300 colaboradores que tínhamos na empresa. Hoje está tudo bem, mas as cicatrizes ficaram. Vivi isso na pele, mas para o Brasil ainda foi pior, o prejuízo foi imensurável, a energia mais cara é a que não existe. Isso trava a economia e afunda ainda mais a nossa combalida produtividade que falta há tempo no Brasil.

Entre julho de 2001 a setembro de 2002 tivemos uma das piores crises do setor elétrico no Brasil, mas muito bem administrada, deve ser considerado. Quem quiser ver mais olhe aqui.

O setor elétrico é dividido entre período seco e úmido. Seco de novembro a maio e úmido de dezembro a abril.
Normalmente os reservatórios devem ser recompostos no período úmido para aguentar o seco.

Sem entrar muito em detalhes técnicos, vamos colocar as principais características do problema de 2001.
  1. Faltou planejamento no setor
  2. Os reservatórios no sul tinham água, mas não tinha linhas de transmissão, apesar das fontes do sul  não conseguirem suportar a carga do sudeste, poderia ter amenizado a crise.
  3. Não havia as termoelétricas  
  4. Faltou água e foi preciso racionar o fornecimento.
Agora, em 2014, temos uma situação diferente:
  1. Houve planejamento, mas deu errado. A modicidade tarifária a qualquer custo, criou um preço artificial. Não se brinca com preços e a conta chega para ser paga. Veja planejamento da EPE
  2. Há linhas de transmissão servindo bem ao Brasil, mas muitas não entraram em operação por questões de atrasos, problemas ambientais, etc. Fará falta.
  3. A expansão da geração existiu, mas ainda insuficiente porque as usinas atuais trabalham a "fio d'água" e são mais suscetíveis as questões hidrológicas e meteorológicas.  As eólicas que seriam a promessa, têm problemas diversos de projetos, não sustenta a carga e não é energia de base, mas sim complementar. A aposta foi superdimensionada pelas autoridades do setor.
  4. A base de térmicas existentes é de 21 mil MW, já estão rodando quase 18 mil MW e o CMO já está nas alturas, parece que R$ 1.600,00 por MWH, por isso a conta será salgada. Paga o tesouro ou o consumidor. Não existe almoço grátis.
  5. A base de térmicas não consegue segurar a carga porque não pode rodar 24/7, ou seja ainda dependemos dos reservatórios.
  6. A carga aumentou muito. Principalmente o consumo residencial. É verdade que a economia cresce menos do que o desejado, mas isso alivia o setor elétrico. Não poderíamos inferir que a falta de energia trava o crescimento econômico do país porque os problemas são vários, inclusive a energia.
  7. A carga residencial é pequena comparada com a industrial, mas no chamado horário de ponta é problema sério, principalmente quando falta combustível (água).
  8. Hoje temos duas pontas no sistema 19 horas e 14 horas, antes era só as 19 horas.
  9. Nunca houve redução de reservatórios em janeiro, este ano aconteceu. Veja matéria.
  10. Temos 118 mil MW de capacidade instalada, mas nesta conta é preciso considerar o fator de capacidade, ou seja não temos esta disponibilidade 100%. Nosso pico de demanda já bateu 85 mil MW por conta do calor. Isso foi causa de muitos destes "apagões" que tivemos, podem apostar.
  11. A situação dos reservatórios é crítica e pior do que em 2001, mas a situação hoje tem premissas diferentes, mas não menos preocupantes. As previsões de chuva para março não atendem o setor elétrico. Infelizmente. Clique e veja matéria.
  12. Pelo jeito, são as águas de março e a enchente das goiabas fechando o verão e aumentando nossa preocupação.
Tomara que eu esteja errado, mas fico ainda mais preocupado com uma coisa: Eles empurrarem com a barriga o problema e a bomba estourar. O segredo da administração de uma crise, é se antecipar a ela. Até agora, pelo menos oficialmente não vimos nada. Sei de movimentos entre os atores e o governo, racionamento branco talvez, medidas e propaganda de economia, mas sei também que a presidente dá murro na mesa quando se fala nisso. Vamos esperar e rezar. Vamos também confiar nas pessoas responsáveis do Brasil.

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