sexta-feira, janeiro 18, 2008

A herança maldita e a oportunidade perdida I

Fica fácil olhar para trás e consertar fatos passados. No caso brasileiro, após a leitura de pelo menos sete livros: A odisséia histórica de Eduardo Bueno nos seus quatro livros, 1808 de Laurentino Gomes e as biografias de Pedro II, de José Murilo Carvalho e Pedro I de Isabel Lustosa, todos excelentes, recomendo a leitura, agradável e enriquecedora.
Portugal com o D. Henrique, o rei de meados do século XV, foi a grande potência mundial. A
Escola de Sagres pode ser comparada a NASA atual em termos de tecnologia e pesquisas.
A era dos descobrimentos, onde o mundo desconhecido da Europa foi desvirginado pelos navegadores, o Brasil era descoberto no embalo dessa prosperidade portuguesa, do espírito empreendedor e força do país mais poderoso da época. Ai começa nosso calvário quando considero a herança maldita.
Com todo respeito aos portugueses e a Portugal, vamos aos fatos colhidos por mim nestes livros tão interessantes:
· Portugal no princípio de 1600, século XVII, perdia sua posição de líder para Espanha e a emergente Inglaterra, a futura rainha dos mares;
· A colonização feita sob a égide da exploração e tutela da poderosa igreja saindo da inquisição colocaria muitas coisas ruins nos costumes e hábitos do brasileiro e do português;
· Todo renascentismo e iluminismo da Europa nos séculos XVII e XVIII não teve reverberação em Portugal que continuou um reino, atrasado, corrupto e carola;
· Um fato inusitado, fruto do liberalismo e do iluminismo europeu, ergueu Napoleão Bonaparte após a revolução francesa no final de 1700, para organizar a população em frangalhos pela miséria e desordem da revolução;
· Napoleão reformou a Europa com a destituição de reinos e invasão de províncias, a vinda da corte, em 1808 foi graças a Napoleão Bonaparte;
· É inegável que a mudança do Brasil com a vinda da família real mudou radicalmente o país, então com 300 anos de atraso pela colonização exploratória e predadora, com os degredados, criminosos e prostitutas, povoando o Brasil desde o descobrimento;
· Para se ter uma idéia, em moeda de hoje, entre 1700 e 1800 foram expropriados do Brasil R$ 30 bilhões, só de Minas Gerais R$ 12 bilhões, sem contar o contrabando que segundo alguns este valor seria em dobro;
· Outro fato do atraso, o Brasil era o país com maior número de escravos no mundo e um dos últimos a abolir a famigerada escravidão, no século XIX, início de 1800, era temida uma revolta dado ao número elevado de escravos, segundo historiadores com os hábitos selvagens, sujos e odiosos;
· Estrangeiros em viagem pelo Brasil relatam a indolência e sujeira dos hábitos brasileiros nesta época, a exemplo de Portugal que sempre foi o reino mais atrasado da Europa, nos livros são descritas cenas enojadas;
· Relatos de crimes e corrupção acompanham o Brasil por todos os anos, desde o descobrimento, colonização, até a proclamação da república em 1889, a prática da caixinha iniciada na instalação do primeiro governo, sempre deixou funcionários públicos milionários. Nos idos de 1800, a cobrança de 17% de “caixinha” era praxe escancarada;
· Uma das grandes fontes dos historiadores, Luiz Joaquim dos Santos Marrocos escreveu em 1812: “ Em cinco dias contaram me 22 assassinatos, e numa noite defronte a minha porta fez um ladrão duas mortes e feriu um terceiro gravemente”, qualquer semelhança com o Rio de 200 anos depois não será mera coincidência.

Esta é uma pequena síntese de episódios que comprovam tristes constatações de nossa herança histórica.

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